Subindo a Rua Padre Rolim, no sentido da rodoviária, em Ouro Preto, o atleta Gabriel finalizava mais um treino quando foi alvo de racismo. O vídeo, divulgado pelo próprio atleta em suas redes ganhou repercussão pela banalidade em que os alunos, em sua maioria crianças, decidiram entoar sons ‘de macaco’ ao ver o homem passando. O jornal Galilé conseguiu confirmar que os autores eram alunos de uma escola particular de Belo Horizonte.
Gabriel captou com perfeição as palavras dos garotos, mas essa não era sua intenção. Ele apenas estava registrando mais uma etapa de sua preparação. Logo após publicar o relato em suas redes, a comunidade ouro-pretana se movimentou para demonstrar indignação quanto ao ocorrido.
Gabriel Augusto de Jesus, a vítima, expressou sua consternação diante da cena, lamentando ter que comentar sobre algo que foge da sua profissão, mas que infelizmente segue na sociedade:
“Sempre venho aqui para trazer boas notícias, positivas, ainda mais esta semana que estou muito feliz com a realização do treino da segunda-feira, subindo para Itabirito, né? Fiz um tempo excelente, estou muito satisfeito. Mas o treino de hoje também saiu muito bem. Mas fiquei meio chateado com o que aconteceu quando estava indo em direção ao Veloso, subindo sentido à rodoviária. Passei por um grupo escolar, parece ser de uma escola particular, não daqui de Ouro Preto. Os alunos fizeram gestos e algumas coisas que me deixaram muito chateado. Vou estar postando um vídeo. Não vim aqui para levantar bandeira, nem citar ninguém, mas, em 2024, a gente tem que conviver com esse tipo de situação, com esse tipo de atitude, principalmente dos jovens, né, que estão em busca do saber.”
PREFEITURA DE OURO PRETO E CASA DE CULTURA NEGRA REPUDIAM O RACISMO
A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo divulgou uma nota pública repudiando veementemente o ocorrido e assegurou apoio total ao cidadão ouro-pretano afetado pela situação. Medidas cabíveis estão sendo tomadas, com a Diretoria de Promoção da Igualdade Racial e a Guarda Civil Municipal rastreando imagens para identificação dos responsáveis.
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VEJA A NOTA COMPLETA:
“Durante a tarde da última quinta-feira, dia 11 de abril, um atleta ouro-pretano recebeu ofensas racistas no centro histórico de Ouro Preto durante sua prática esportiva. Adolescentes de um grupo escolar que visitavam a cidade proferiram insultos enquanto o munícipe passava pelo grupo. A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo vem a público repudiar a ação e informar que está totalmente à disposição para prestar total apoio ao morador da nossa cidade.
Informamos que as medidas cabíveis já estão sendo tomadas pela Secretaria, e que a Diretoria de Promoção da Igualdade Racial, em parceria com a Guarda Civil Municipal, está realizando o rastreamento das imagens para possível identificação dos autores. Sabemos da importância de Ouro Preto para o turismo pedagógico, por proporcionar experiências importantes de aprendizado fora do ambiente da sala de aula. O povo ouro-pretano está sempre de braços abertos para receber visitantes, no entanto, atitudes como esta não serão toleradas em nosso município. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, 70% da nossa população se declara como não branca. Práticas discriminatórias e ofensivas que ferem a dignidade humana não condizem com os valores que defendemos.
É importante lembrar que RACISMO É CRIME INAFIANÇÁVEL E IMPRESCRITÍVEL.“
VEREADOR NEGRO DE OURO PRETO SE PRONUNCIA
O vereador Alex Brito (PDT), morador do Veloso e grande voz negra dentro da Câmara Municipal de Ouro Preto também se pronunciou. Ele classificou o episódio como “lastimável” e exigiu retratação por parte da escola responsável pelos alunos infratores. Ele convocou uma aula sobre a história e a cultura local para os estudantes, destacando a contribuição do povo ouro-pretano para a construção da cidade.
“Nesta última quinta-feira, aconteceu uma cena lastimável em Ouro Preto, não é? Um caso horrível de racismo com o nosso atleta e amigo Gabriel, que nos deixou muito entristecidos. Uma escola particular de Belo Horizonte veio a Ouro Preto para saber um pouco mais sobre a história das cidades, sobre a história dos nossos antepassados, e teve uma atitude tão triste e lamentável como essa. Eu já acionei a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Ouro Preto. Nós vamos exigir uma retratação dessa escola que já foi identificada pela nossa competente guarda municipal. Os alunos e a escola já foram identificados e vamos pedir que essa escola compareça à câmara. Esperamos que esses alunos também venham para ter uma aula conosco sobre o nosso povo, o povo que fez a história dessa cidade, o povo que escreveu a história da nossa cidade e que fez essa cidade para que eles pudessem estar aqui visitando.”
PRONUNCIAMENTO DA ESCOLA
O jornal Galilé conseguiu descobrir que o caso foi praticado por alunos de uma rede de escolas particulares de Belo Horizonte. Em contato com a nossa reportagem, a escola lamentou o ocorrido e enfatizou que iniciou uma investigação interna para apurar os fatos.
VEJA A NOTA COMPLETA
“A Rede Decisão tomou conhecimento de comportamentos inapropriados relacionados a discriminação racial, ocorridos no município de Ouro Preto. Lamentamos tal fato, e estamos profundamente comprometidos com os princípios de respeito e inclusão e, por isso, instauramos uma sindicância interna para averiguar os fatos com seriedade e diligência. Reforçamos que tais atos são fortemente contra os princípios da instituição e a tudo que acreditamos! Estamos continuamente reforçando atitudes empáticas e de igualdade em conjunto com nossos alunos, e continuaremos promovendo diálogos construtivos com toda a comunidade escolar para garantir que nossa escola seja um ambiente seguro e acolhedor para todos. Expressamos nossa solidariedade ao envolvido neste ato inadmissível. Juntos, reafirmamos nosso compromisso com a construção de um futuro mais justo e inclusivo.”
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Jornalista formado pela Universidade Federal de Ouro Preto, com passagens por Esporte News Mundo, Blog 4-3-3 e Agência Primaz.