O Instituto Guaicuy e a comunidade de Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto/MG, atingida pelas obras de descomissionamento da Barragem Doutor, da mineradora Vale, concluíram a quarta rodada de reuniões de núcleos comunitários. Nesse ciclo de encontros, o objetivo foi dar continuidade ao processo de revitalização da Comissão de Pessoas Atingidas.
Para isso, foram realizadas 10 reuniões, duas em cada núcleo, onde a população e o Guaicuy dialogaram sobre a importância e as funções da Comissão, e indicaram novos integrantes para compor o grupo que é responsável por representar a comunidade em diversas atividades de luta pela reparação integral diante dos danos causados pela mineração no distrito. O último encontro dessa rodada aconteceu no dia 16 de abril.
Dentre novatos e veteranos, agora a Comissão conta com mais de 50 pessoas interessadas em participar. Durante a assembleia de escolha dos nomes de representantes das pessoas removidas da Zona de Autossalvamento (ZAS), Bruno Saback, que já é veterano na Comissão, destacou a força da coletividade que se consolida em todo o território de Antônio Pereira: “A importância dessa revitalização é enorme, principalmente em relação a gente conseguir alcançar o maior número de pessoas possível […] Eu acho que, com o Instituto Guaicuy, a gente pode conseguir representatividade muito maior.”
Perfil das pessoas indicadas
Após amplo debate e esclarecimentos sobre a relevância da Comissão como ferramenta comunitária de luta, a população indicou nomes de referências comunitárias e pessoas que se colocaram à disposição para ajudar a construir os novos passos no processo de reparação e fortalecer a luta em busca de justiça.
A Comissão existe desde 2019 com um traço forte: o poder da voz das mulheres na estruturação e conquistas realizadas até agora. Nesse processo de revitalização, ainda que em quantidade quase equiparada ao número de homens, as mulheres ainda são maioria; 28 moradoras do distrito fazem parte da lista de pessoas candidatas a integrantes da Comissão.
Algumas delas são Ivone Zacarias e Carla Dayane Moreira, que já fazem parte da Comissão. Elas participaram das reuniões dos núcleos 1, 2 e 3 levando relatos de suas experiências. “Na última reunião que tivemos com o Ministério Público em Ouro Preto, deu pra notar a diferença quando era nossa vez, nós da Comissão, de falar. Eles prestam mais atenção quando a fala é diretamente das pessoas atingidas. Por isso a Comissão é importante”, conta Ivone Zacarias, moradora do distrito e garimpeira tradicional. Carla Dayane Dias acrescenta que além de ser uma voz potente da população, a Comissão é uma junção de forças: “Tem gente que tem mais facilidade em escrever documentos, outras têm contato com os jornalistas…E é assim: cada um ajuda como sabe”, disse.
O ideal é que esse grupo tão importante para a comunidade seja ainda mais plural, democrático, transparente e que possa garantir a ampla participação e diversidade de opiniões. Por isso, a Comissão é aberta a quem se interessar em participar mesmo depois da rodada de reuniões de núcleos.
Conquistas já alcançadas
Em todas as reuniões, aconteceram falas que destacaram a importância da Comissão e as conquistas alcançadas desde 2019. Seja organizando manifestações em BRs para conseguir informações da Vale sobre a instabilidade da Barragem Doutor e o processo de remoções ou para cobrar os direitos da população, como a Assessoria Técnica Independente e perito da justiça no distrito, é fato que a Comissão foi e continua sendo fundamental para Antônio Pereira.
“Foram várias as ações da Comissão que deram resultado, mas a que mais me marca é a gente ter conseguido, mesmo sem saber muito sobre o que é ser uma comissão, ter todo o território sendo reconhecido, sendo chamado de atingido. Então isso pra mim é um ganho muito grande mesmo. Eu acho que relata aquilo que verdadeiramente a gente está atrás, correndo atrás para o coletivo”, ressalta Cida Rosa, pessoa atingida da ZAS, que acrescenta: “Eu tenho grande esperança que, tudo o que a gente conquistou, a gente vai conquistar muito mais, porque juntos seremos mais fortes. Essa é a nossa frase, desde o início da comissão!”
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“A comissão fortalece o ganho de todo mundo. Não é o momento de lutar separadamente, é de se juntar. Hoje precisamos lutar juntos e cada pessoa tem um papel importante. É fundamental ter protagonismo na luta, nunca vi luta dar certo se não for assim. Há diferenças entre as pessoas, mas precisamos ficar juntos por essa causa. […] É um trabalho de todos. Ser da comissão é saber o que está acontecendo no processo”, afirma Alexandre D’Angelo, morador e presidente da Associação de Moradores da Vila Residencial Antônio Pereira.
Paulo Amorim, que também é removido da Zona de Autossalvamento, comentou sobre as vitórias coletivas e sobre caminhar junto com o Guaicuy daqui em diante. “O que deu certo na comissão desde o início foi a união das pessoas e a gente conseguiu a instrução de uma pessoa aplicada na legislação, que nos orientava. Por isso é importante o Instituto Guaicuy participar com a gente das reuniões da comissão, se puderem, porque a gente precisa dessa instrução. Às vezes a gente fala uma coisa que acha irrelevante, porque a gente não tem o conhecimento, mas isso é muito importante.”
Sobre o papel do Guaicuy, enquanto Assessoria Técnica Independente de Antônio Pereira, no processo de revitalização e, posteriormente, no acompanhamento e apoio à Comissão, Ronald Guerra, vice-presidente do Guaicuy e coordenador-geral da ATI, lembra que faz parte das atividades da assessoria apoiar a comunidade na reorganização da Comissão levando informações qualificadas e buscando, inclusive, fortalecer a organização social para isso.
“Faz parte do papel da ATI auxiliar a Comissão na elaboração dos documentos estratégicos, que serão encaminhados tanto para os órgãos de justiça, como para a prefeitura ou para a própria Vale. […] A Assessoria Técnica Independente tem um papel muito importante de fortalecer a atuação da Comissão e fortalecer a organização social da comunidade. Reforço que toda a população de Antônio Pereira é conhecida pela Justiça como atingida pelas obras de descomissionamento da Barragem Doutor, e nós (Guaicuy) estamos do lado dessa população”, conclui.
Texto escrito pelo Instituto Guaicuy.
SOBRE O INSTITUTO
Criado no ano 2000 por pesquisadores, professores e ativistas sociais que atuavam no projeto Manuelzão (UFMG), o Instituto Guaicuy é uma entidade não governamental associativa, cultural e técnico-científica sem fins lucrativos.
Seu trabalho é desenvolver ações socioambientais, culturais e educativas voltadas para a preservação e recuperação ambiental, para a promoção da saúde, cidadania e construção de uma sociedade mais justa, solidária e participativa.
Atualmente, o Guaicuy presta Assessoria Técnica Independente (ATI) em 10 municípios de Minas Gerais, e no distrito de Antônio Pereira (Ouro Preto), para as pessoas atingidas por mineração.
MAIS INFORMAÇÕES
Assessora de Imprensa da ATI Antônio Pereira – Instituto Guaicuy
Mariana Viana – Tel.: (31) 99664-7062 E-mail: mariana.viana@guaicuy.org.br
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Fundado em 1990 por Francelina e Arnaldo Drummond do antigo Instituto de Arte e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), o jornal nascia em meio a uma onda democrática, que inspirava os brasileiros naquele momento. Tendo como objetivo levar informação aos cidadãos ouro-pretanos, o Galilé se diferenciava dos demais concorrentes por ser um jornal de opinião, oferecendo um pensamento crítico acerca da realidade ouro-pretana e brasileira.
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[…] abr 30, 2024 Redação 3 […]