O vice-prefeito eleito de Mariana, Cristiano Vilas Boas (PT), fez uma comparação inusitada em entrevista ao Let’s Podcast na noite de terça-feira (30). Ele não conseguiu tomar posse como vice na Prefeitura Municipal, porque o seu companheiro de campanha, Celso Cota foi impedido de assumir a Prefeitura de Mariana, por improbidade administrativa, que suspendeu seus direitos políticos por sete anos, de 9 de novembro de 2009 a 2 de junho de 2010 e de 2 de junho de 2015 a 9 de novembro de 2021 – o que gerou, também, a suspensão da sua inscrição eleitoral pelo mesmo período. Celso assumiria o cargo pela quarta vez.
“Eu comparo muito essa eleição que estamos passando agora do Lula e do Bolsonaro com a eleição de Mariana. Você tem o Lula, que já é conhecido pelo trabalho que fez, principalmente pelos mais pobres, e o Bolsonaro, que sempre criticou os auxílios e agora está fazendo a mesma coisa, mas de uma forma eleitoreira. Se você pegar os números do que foi gasto pela Prefeitura de Mariana, com material de construção, no período eleitoral, verá que aumentou extraordinariamente. Nós saímos vencedores em uma eleição muito difícil, não houve uma resolução, mas acreditamos que, em breve, teremos o resultado, com a posse do prefeito e vice eleitos ou com uma nova eleição”, disse Cristiano Vilas Boas ao Let’s Podcast.
Com o candidato eleito impedido de assumir, o então presidente da Câmara de Mariana, Juliano Duarte (Cidadania), assumiu a Prefeitura Municipal. Porém, após um ano e meio, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) considerou que o prefeito interino não poderia ocupar a cadeira no poder Executivo por ser irmão do ex-prefeito Duarte Júnior, que havia finalizado o seu segundo mandato seguido. Assim, o vice-presidente da Casa Legislativa, Ronaldo Bento (PSB) assumiu a prefeitura até que a Justiça tome sua decisão. O imbróglio é extenso. Celso já teve duas decisões desfavoráveis, porém, recorreu a todas e em última instância o TSE anulou a decisão tomada em Minas Gerais, alegando ausência de quórum. Assim, o caso retornou à segunda instância e será julgado novamente pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG).
“Estamos muito confiantes que em breve a situação será resolvida, no máximo até o final do ano. Tivemos o julgamento em Minas que foi anulado pelo TSE, em Brasília. Acreditamos que agora teremos um julgamento justo. Fomos eleitos com a maioria dos votos, mesmo numa eleição muito difícil, contra o sistema e a máquina da prefeitura trabalhando contra”, acrescentou Cristiano.
Críticas ao Tarifa Zero
Cristiano Vilas Boas também teceu críticas à algumas medidas tomadas por Juliano Duarte enquanto prefeito interino. Para ele, quando há um governo por tempo indeterminado, não há planejamento, principalmente a longo prazo. Ele citou como exemplo o badalado programa do Tarifa Zero, que fornece ônibus gratuito para a população, custando R$ 1 milhão por mês para os cofres públicos. Para o vice de Celso Cota, a iniciativa é interessante, porém, se fosse em seu governo, faria algumas mudanças, colocando uma frota de ônibus própria para circular no município e não tendo uma empresa terceirizada.
“A cidade que implementou o programa e se tornou um exemplo para o Brasil e para o mundo foi Maricá, no Rio de Janeiro, governada pelo Partido dos Trabalhadores há mais de 10 anos. Lá é feito de uma forma planejada. A nossa crítica ao Tarifa Zero, da forma que foi feito em Mariana, é que deveria ter sido montada uma autarquia para ser responsável pelo programa e não fazer com empresa terceirizada como é no caso da Transcotta, que tem um contrato precário e sem licitação. A empresa tem uma margem de lucro e a autarquia é mais econômico, porque tem frota própria e é feito com recurso público”, declarou.
De acordo com Cristiano Vilas Boas, Maricá (RJ) conta com ônibus sustentáveis, elétricos, com wi-fi e possui um custo menor comparado com o modelo utilizado por Mariana. “Com uma frota própria, há uma garantia das montadoras de cinco anos, então seria esse tempo todo sem gastos com frota”, complementou.
Outra crítica de Cristiano Vilas Boas ao Tarifa Zero é a falta de fiscalização. Segundo ele, há linhas que atrasam ou mesmo que não passam, o número de usuários de transporte por aplicativo aumentou e o trânsito na cidade piorou, após a implementação do programa. “Com autarquia, também há uma fiscalização maior. O programa existe, mas a prefeitura não tem feito uma fiscalização efetiva. É um programa interessante, mas que tem que ser fiscalizado e bem executado”, finalizou.
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Resposta de Juliano Duarte
Ao Jornal Galilé, Juliano Duarte disse que o Tarifa Zero é um marco na história de Mariana. Segundo o agora vereador, com o programa o número de usuários do transporte coletivo subiu de 180 mil para 440 mil passageiros por mês. Ainda segundo ele, a Prefeitura Municipal realizou uma pesquisa que aponta para 91% a aprovação popular da iniciativa. Assim, o membro do poder Legislativo marianense rebateu às críticas feitas por Cristiano Vilas Boas.
“O Cristiano faz parte de um grupo político de oposição, foi vice de um candidato caçado e que não assumiu a prefeitura em virtude do candidato ter sido condenado em segunda instância. Por esse motivo, eu assumi a Prefeitura de Mariana. Nós fomos eleitos com 11 votos na Câmara, assumi a prefeitura e um dos grandes programas e marcos que vai ficar na história de Mariana é o Tarifa Zero. Eu não conheço nenhum programa social que tenha um alcance como o Tarifa Zero”, comentou Juliano Duarte.
Mas o Tarifa Zero não viveu apenas bons tempos. Juliano conta que, no início, ocorreram alguns problemas no transporte coletivo, em virtude do aumento inesperado da demanda e pela fase experimental do programa. Dessa forma, ao longo do tempo, a gestão aumentou o número de linhas e hoje são mais de 10 que foram incluídas desde o dia que o programa começou, a fim de evitar a superlotação nos veículos.
“Foi um marco da nossa gestão que várias cidades de Minas estão copiando, como Ouro Branco que implantará o Tarifa Zero e representantes de outras cidades que estão vindo à Mariana para conhecer e para levar uma proposta semelhante para o município. O programa melhorou a vida de muitas pessoas que, antes, pagavam pelo transporte e agora podem investir em educação e moradia, além de contribuir com o comércio que, hoje, não paga mais vale-transporte e economiza para contratar mais. AS pessoas também compram mais, porque estão economizando”, disse
O programa também beneficiou os distritos marianenses. Antes do Tarifa Zero, o distrito de Vargem pagava R$ 15 de tarifa para acessar à sede. Portanto, a comunidade chega a economizar R$ 30 para ir e voltar da localidade central de Mariana.
Entretanto, o custo mensal da prefeitura com o Tarifa Zero é de R$ 989 mil por mês, após o aumento no número das linhas. O número é expressivo, porém, ao dividi-lo com a média de usuários, 440 mil, o valor da tarifa sai R$ 2,24 por pessoa. Segundo Juliano Duarte, sem o ônibus de graça, a Transcotta estaria cobrando R$ 5,40 a tarifa. Além disso, Mariana conta com três carros de reserva para atender as linhas urbanas e outros três para as linhas rurais.
“É um programa que deu muito certo e que causou ciúmes em muitos políticos de oposição e alguns querem, com oportunismo, criticar uma administração que saiu da prefeitura com 92% de aprovação popular”, acrescentou Juliano Duarte.
A entrevista de Cristiano Vilas Boas ao Let’s Podcast pode ser conferido, na íntegra, clicando aqui.
ERRATA: Anteriormente, o Jornal Galilé havia noticiado que Cristiano Vilas Boas teria comparado Celso Cota a Lula, o que foi um equívoco. O vice-prefeito eleito de Mariana, em contato com a nossa redação, explicou que a comparação se tratava apenas das eleições, pensando nas práticas “eleitoreiras” que o grupo político da oposição teria praticado ao se aproximar das eleições. Entretanto, a utilização do artigo indefinido “um” ao referir a Lula ao invés de “o” causou uma outra interpretação. Já modificamos o texto e o título, pedimos desculpa a qualquer um que tenha se sentido lesado com a notícia. Reforçamos o compromisso com a divulgação de informação com qualidade e com o amplo diálogo.
Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), tendo passagens pelo Mais Minas, Agência Primaz e Estado de Minas.
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