A XVIII edição do tradicional Forum das Letras, promovido pela Universidade Federal de Ouro Preto, aconteceu entre os dias 18 a 21 de outubro, com o tema « Materialidades da Poesia », homenageando Cecília Meireles e o mineiro Guilherme Mansur, um dos mais importantes poetas do Brasil na atualidade, que faleceu no dia 27 de setembro deste ano, aos 65 anos. Com debates, exposições, espetáculos, oficina para crianças, peça de teatro e até chuva de poesia, o Forum das Letras retoma a tradição que o consagrou como um dos mais importantes eventos literários do Brasil, voltado para a valorização das literaturas de língua portuguesa, dando sempre muito destaque aos autores nacionais.
A professora Guiomar de Grammont, da UFOP, também coordenadora e idealizadora do Fórum das Letras, lembra que:
“A história da literatura costuma dar pouco destaque às produções textuais que se situam na fronteira entre as artes e as letras. No entanto, desde fins do século XIX, a materialidade das palavras foi posta em relevo por Mallarmé e, posteriormente, por poetas de vanguarda como Apollinaire e Marinetti. A ênfase no aspecto visual do texto foi recuperada, no Brasil, pela poesia concreta. Essa poética da invenção antecipou potencialidades intermidiáticas utilizadas por diversos poetas da atualidade, dentre eles, Guilherme Mansur, o tipoeta que acaba de nos deixar e é homenageado nesta edição do Forum das Letras, juntamente com Cecília Meireles“
Guiomar completa, dizendo:
“Guilherme foi um dos meus melhores amigos, conversávamos sobre tudo. Acompanhei a produção da maioria de suas obras e fizemos juntos o livrinho Caderno de pele e de pelo. Quando iniciamos o Forum das Letras, ele criou a voluta barroca que se tornou a marca registrada do evento: um papel vermelho, que se desenrola no vento. A cada ano, o Forum apresentava alguma de suas invenções, de exposições surpreendentes a chuvas de poesia. Ele foi homenageado no Forum das Letras de 2018 e estava participando da organização deste Forum de 2023, que deveria ser uma celebração do seu retorno à casa. Ele cedeu um de seus poemas para ser a imagem do Forum das Letras deste ano, com a referência à poesia e à tipografia“.
Graças a uma parceria com a Embaixada da França, o Fórum traz também a Ouro Preto, a exposição La Maison de Clarice, que será aberta no dia 21 de outubro, na Casa dos Contos. Com curadoria da professora e escritora da UFOP, Guiomar de Grammont, e de Vincent Zonca, Léo Le Berre e Roberto Pedretti do Escritório do Livro e do Debate de Ideias da Embaixada da França no Brasil. Com concepção artística e cenográfica de Valeria Neno e design gráfico de Valter Fadel, a mostra La Maison de Clarice traça um paralelo entre a vida e a obra de Clarice Lispector e de suas contemporâneas, Marguerite Duras e Nathalie Sarraute. A exposição circulou pelo Rio de Janeiro, Brasília, Volta Redonda e Belo Horizonte e, agora, poderá ser vista, com entrada franca, na Casa dos Contos de Ouro Preto.
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Para Vincent Nedelec, Adido de Cooperação Cultural da Embaixada da França em Minas Gerais, “a obra de Clarice Lispector é cada vez mais lida e apreciada pelos leitores franceses. O interesse do público francês por Clarice se evidencia no cuidadoso trabalho das Editions des femmes – Antoinette Fouque ao editar, uma a uma, todas as obras da autora. A França foi o primeiro país a publicar uma tradução de Clarice, com Perto do coração selvagem, em 1954, uma década depois da aparição do livro no Brasil.” Na abertura, teremos o Show Um mundo todo vivo, em queMaíra Lana, acompanhada do experiente violonista Gustavo Souza,cantarácanções francesas e brasileiras entremeadas por leituras de breves textos de Clarice Lispector, Marguerite Duras e Nathalie Sarraute.
A professora Mônica Gama, também curadora e coordenadora do Forum das Letras, menciona que, com diversos debates sobre poesia e edições artesanais, o Forum de 2023 procura responder a algumas perguntas fundamentais: «O poema tem materialidade e a a poesia, não? A semântica e a oralidade, juntamente com a visualidade, são dimensões materiais da palavra? Editar livros, em tempos miltimídia, é um ato de resistência? Quais os desafios enfrentados pelos editores independentes? »
Obra das mais destacadas de Cecília Meireles, o “Romanceiro da Inconfidência” (1953), ao longo das décadas, tem recebido leituras e investigações diversificadas. Neste ano de 2023, em que se completam 70 anos da publicação do Romanceiro, o Forum homenageia esse clássico da literatura brasileira em uma mesa com os poetas e pesquisadores Breno Fonseca, Denilson de Cássio Silva e Simone Andrade Neves, mediada por Daniela Laubé. Além disso, promove a exibição do curta-metragem “Vagas Absolutas”, dirigido por André Rocha, sobre o encontro que participantes do clube de leitura Vaga Música provenientes de diversos estados do Brasil realizaram em Ouro Preto para festejar os 121 anos de Cecília Meireles.
O Ciclo de Jornalismo e Literatura, um dos espaços mais significativos do Forum das Letras, continua vivo: um dos debates mais esperados do evento será o encontro entre Bruno Meyerfeld (correspondente do Le Monde no Brasil), Leonardo Sakamoto e Ricardo Lísias no dia 21 de outubro, sábado, na Casa dos Contos, sobre os Dilemas da Democracia em tempos de redes, com mediação do professor da UFOP,Mateus Pereira. A conversa tratará dos dilemas e possibilidades do campo progressista no atual contexto de crise democrática no Brasil e refletirá sobre como os modelos e possibilidades de regulação das redes irão afetar a vida das pessoas comuns. O Ciclo abordará também a crônica como forma literária de registro do tempo, em uma mesa com Blima Bracher, Rogério Tavares Farias, Ângela Xavier, com mediação de Nino Stutz, dia 21, às 18 horas, também na Casa dos Contos.
Segundo Guiomar, “continuam vivos os objetivos do Forum das Letras, de fomentar o debate sobre a formação do hábito de leitura literária em crianças e jovens e lutar pela democratização do livro e da leitura literária dentro e fora da escola, considerando os atravessamentos de toda ordem que interferem nos processos de produção, circulação e recepção dos livros“
Muita história, 18 anos de Fórum das Letras
Desde sua estreia, em 2005, o Fórum das Letras tem festejado o livro e suas mais diversas faces, promovendo debates sobre literatura, edição, tradução, crítica, leitura e toda a cadeia produtiva e de circulação do livro. Momentos históricos, como o maior crime ambiental de todos os tempos, ocorrido em Mariana, em 2015 e o impeachment da presidenta Dilma Roussef, em 2016, foram debatidos nos palcos do Fórum das Letras. Em todos esses anos, grandes nomes do cenário cultural brasileiro desfilaram pelas ladeiras e salas de Ouro Preto, em programações sempre críticas sobre a realidade do Brasil e do mundo. O Forum recebeu nomes como Conceição Evaristo, Adélia Prado, Nélida Piñon, Ferreira Gullar, Moacyr Scliar, Affonso Romano de Sant’Ana, Marina Colasanti, Marcio Souza, João Ubaldo Ribeiro, Milton Hatoum, Emicida, Férrez, MV Bill, Adriana Calcanhoto, Leonardo Sakamoto, Paulo Lins, Mario Magalhães, Paulo Markun, José Miguel Wisnik, Arnaldo Antunes, Tony Belloto, Elisa Lucinda e tantos outros.
Participaram também grandes autores internacionais, como Jean-Paul Delfino, Roger Chartier, Asne Seierstadt e portugueses e africanos de língua portuguesa, como Pepetela, José Luiz Peixoto, Valter Hugo Mãe, Isabel Lucas, o moçambicano Mia Couto e o angolano Luandino Vieira, entre tantos outros. Passaram pelo Ciclo de Jornalismo nomes como João Moreira Sales, Lira Neto, Eliane Brum, Humberto Werneck, Mário Magalhães, Daniela Arbex, Audálio Dantas, entre outros grandes nomes do jornalismo brasileiro.
O Fórum das Letras de Ouro Preto tem coordenação da escritora e professora Guiomar de Grammont, idealizadora do evento, e da professora Mônica Gama e é promovido pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Fundado em 1990 por Francelina e Arnaldo Drummond do antigo Instituto de Arte e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), o jornal nascia em meio a uma onda democrática, que inspirava os brasileiros naquele momento. Tendo como objetivo levar informação aos cidadãos ouro-pretanos, o Galilé se diferenciava dos demais concorrentes por ser um jornal de opinião, oferecendo um pensamento crítico acerca da realidade ouro-pretana e brasileira.
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