“‘Aguaceiro’ fluiu com uma leveza jamais obtida”: Thelmo Lins, artista de Itabirito, sobre seu décimo álbum

Lançamento álbum Thelmo Lins

Thelmo Lins, artista de Itabirito, lança o clipe “Ai, não me deixes não!” e “Aguaceiro”, seu décimo álbum em 2023. Ele celebra 60 anos de vida neste ano e 40 anos de carreira, em 2024. O lançamento do álbum “Aguaceiro” aconteceu dia 18 de novembro e as canções estão disponíveis nas plataformas digitais.

Levo Itabirito em quase tudo que eu faço. Meu primeiro disco solo, ‘Encontro dos Rios’ (2000) foi totalmente dedicado a compositores itabiritenses do século XX, a maioria deles havia falecido sem quaisquer registros fonográficos. Em quase todas as ocasiões, inclui cidades como Ouro Preto, Mariana, Congonhas – além de Itabirito, é claro – nas minhas turnês. Em ‘Aguaceiro’, eu faço uma homenagem ao pastel de angu, iguaria de minha terra natal, em forma de receita. É um samba de roda que explica como se faz o famoso pastel. Muitas pessoas que conhecem minha obra ressaltam o amor que eu tenho por Itabirito e que eu sempre falo da cidade em todas as ocasiões que posso”

Thelmo Lins sobre seu pertencimento enquanto artista da região.

Clipe de “Ai, não me deixes não!”

Com filmagem e edição: Thelmo Lins, assistência de filmagem de Wagner Cosse, direção musical de Daniel Rodrigues e produção da TW Cultural, o clipe “Ai, não me deixes, não!”, tem música de Thelmo Lins sobre poema de Gonçalves Dias e valoriza o bicentenário de nascimento do escritor, comemorado em 2023.  

Foi gravado no sítio Casa de Pedra, em Córrego do Bação, Itabirito, MG. Pela relação com a cidade e seu valor literário, o lançamento do clipe aconteceu no Canal YouTube Thelmo Lins, no dia 08, por ocasião da abertura da Feira do Livro de Itabirito/MG.

Lançamento do álbum “Aguaceiro”

“Aguaceiro” é o décimo disco da carreira de Thelmo Lins que, em 2024, completa 40 anos, e marca a comemoração de seus 60 anos, completados em maio deste ano. O projeto tem oito músicas, em sua maioria inéditas e autorais. Do repertório, são de autoria do artista “Aguaceiro”, “Pastel de Angu”, “Não quero cantar tão só”, “Um Grito de Dor” (esta, em parceria com Wagner Cosse) e “Ai, não me deixes não”, poema de Gonçalves Dias musicado por Lins. Outras canções completam o repertório: “Habanera” (Bizet), ária da ópera “Carmen”; “Pra que chorar? (Leo Mendonza), que fez parte da trilha sonora da peça “Pluft, o Fantasminha”; e “Cuíca, Pandeiro, Tamborim…” (Custódio Mesquita), compilada da obra de Carmen Miranda.

O álbum tem direção musical de Daniel Rodrigues, que também atuou como arranjador e violonista. O contrabaixista Nathan Morais, o percussionista Rogério Sam, o baterista André Limão Queiroz, a pianista Júlia Carvalho, o clarinetista Junio Ferreira, o cavaquinista e bandolinista Rafael Delvaux participam do disco, que ainda conta com um quarteto de cordas, formado pelos músicos Vitor Dutra (violino), Alexandre Kanji (violino), Cleusa Nébias (viola) e Antonio Viola (violoncelo). As gravações, mixagem e masterização aconteceram no Estúdio Galvani, sob a responsabilidade de Fabrício Galvani. No vocal da faixa “Pastel de Angu”: Letícia Garcia, Paula Gallo, Pirulito da Vila, Rosane Mendonça, Serginho Barbosa e Wagner Cosse.

Capa do álbum “Aguaceiro”

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História do disco

Em relação à história do disco, Thelmo explica que este é o décimo disco/álbum de sua carreira fonográfica, iniciada em 1999, com o CD “Nada Será Como Antes – Canções do Clube da Esquina”. Ao longo da carreira, dedicou-se a projetos densos, que exigiram muito trabalho e atenção, principalmente porque lidou com a poesia musicada de grandes autores como Drummond, Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa, Afonso Romano, Marina Colasanti e Leo Cunha.

Havia uma grande responsabilidade, não somente por causa do respeito em relação a obras tão primordiais para a cultura brasileira, mas também por lidar com um time de compositores de variadas gerações e estilos. Na verdade, quando o autor compunha uma canção para mim, devido ao processo, eu me adaptava a ele. Além disso, tinha as leis de incentivo, os patrocinadores, as prestações de contas. Desta vez, eu resolvi fazer um álbum sem tantos e pesados compromissos. Escolhi as canções, recordei algumas composições que eu havia feito nas últimas décadas, busquei um repertório que se adaptasse ao meu estilo e, assim, ficou mais relaxado, com menos pressão. Isso não significa que eu não tivesse prazer com os outros projetos. Muito pelo contrário. Foram eles que ajudaram a construir minha trajetória e pelos quais eu tenho muito orgulho. No entanto, ‘Aguaceiro’ fluiu com uma leveza jamais obtida em outras ocasiões. E isso se refletiu nos arranjos, na voz e na delicadeza do resultado final”

conta o artista.

Faixas do álbum

  • “Aguaceiro” (Thelmo Lins) – A canção, criada em 1998, foi incluída no show “Sons de Minas”, que Thelmo Lins e Wagner Cosse apresentaram no projeto “Sons do Horizonte”, naquele mesmo ano. A música ficou inédita desde então, quando o cantor resolveu gravá-la neste álbum comemorativo de seus 60 anos de vida. A letra fala da importância da água para a vida humana. O arranjo abre espaço para o solo do contrabaixista Nathan Morais, ganhador do prêmio Jovem Instrumentista do BDMG Cultural.
  • “Habanera” (Bizet) – A famosa ária da ópera “Carmen” ganha um registro bem brasileiro, inspirado na bossa nova. Thelmo Lins já interpretou a canção no palco, em seu formato original, quando ainda integrava a Escola de Música Padre Xavier, em sua cidade natal, Itabirito, entre o final dos anos 1980 e início dos 90. Em 2008, desenvolveu o projeto de gravação do CD “Pop Opera”, cujo repertório era formado por trechos famosos de ópera adaptados para ritmos brasileiros. Infelizmente o projeto não se concretizou. Agora, depois de todos esses anos, Thelmo Lins relembra uma das faixas, com novo arranjo e concepção, mas com a letra original, em francês.
  • “Ai, não me deixes não!” (Thelmo Lins sobre poema de Gonçalves Dias) – A poesia sempre esteve presente na obra de Thelmo Lins, em especial nos discos de poemas musicados. Drummond, Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa, Leo Cunha, Vinicius de Moraes, Affonso Romano e Marina Colasanti foram temas de seus principais trabalhos. O drama da flor que se vê arrastada pelas águas do regato fazia parte do livro “As mais belas histórias”, usado em sua alfabetização, na escola fundamental (naquela época, primária). Recentemente, ao reler o texto, resolveu musicá-lo, em forma de chorinho.
  • “Cuíca, pandeiro, tamborim…” (Custódio Mesquita) – Esta pérola, de um dos maiores compositores brasileiros da primeira metade do século XX, integrou o repertório de Carmem Miranda (1909-55). O samba foi registrado pela Pequena Notável em maio de 1936, antes dela alcançar o estrelato internacional em Hollywood. Nesta nova versão, ele conta com a participação inspirada o percussionista Rogério Sam, que se revezou em vários instrumentos.
  • “Pra que chorar?” (Leo Mendonza) – O mineiro Leo Mendonza notabilizou-se como dramaturgo e compositor de trilhas sonoras para o teatro. Uma de suas obras é a trilha para a versão da peça “Pluft, o Fantasminha”, de Maria Clara Machado, realizada pela Copas Produções. A montagem estreou em 2012, na capital mineira. Thelmo assistiu à peça e imediatamente se apaixonou por esta canção. Ainda inédita, neste álbum, ela ganha seu primeiro registro fonográfico. Na gravação, a música recebeu uma roupagem sofisticada, com o apoio de um quarteto de cordas.
  • “Pastel de Angu” (Thelmo Lins) – A famosa iguaria, criada pelas escravas Maria Conga e Filó, no século XIX, é o prato típico de Itabirito, terra natal do cantor. A canção traz a receita do famoso pastel, inspirada nos no samba de roda do Recôncavo Baiano, com direito, inclusiva, à percussão feita com prato e faca.
  • “Um Grito de Dor” (Thelmo Lins e Wagner Cosse) – Os versos de Wagner Cosse para a música de Thelmo Lins falam da opressão sofrida pelos povos originários brasileiros, em especial na recente chacina dos Yanomamis. Contra a devastação, um canto de compaixão em formato de oração. Participação especial do violoncelista Antonio Viola e do baterista André “Limão” Queiroz.
  • “Não quero cantar tão só” (Thelmo Lins) – Esta canção foi composta em 2021, para o show “Palco Iluminado”, que Thelmo fez ao lado do cantor Serginho Barbosa e dos músicos Daniel Rodrigues e Júlia Carvalho e registrado em vídeo, sem plateia. A gravação, ao vivo, está disponibilizada nas principais plataformas musicais. A música relata as dificuldades enfrentadas durante o isolamento social imposto pela pandemia do Covid-19. Nesta versão, em formato de blues, a canção ganha novo arranjo com o piano de Júlia Carvalho e o clarinete de Junio Ferreira, dois jovens talentos que despontam na cena musical mineira.

Os desafios são os mesmos há muitos anos. Sem um suporte de divulgação, como têm muitos artistas ligados à indústria fonográfica ou à mídia tradicional, é difícil aparecer. Ainda mais hoje, quando quase não existe mais o suporte do CD, que você podia vender nos shows e lançamentos. Atualmente, você é mais um em milhões de músicos que disponibilizam seus discos nas plataformas digitais, sem qualquer rumo e direção. A tendência é ouvirmos sempre aqueles que temos conhecimento. É difícil para o público (inclusive para nós) ficar buscando artistas novos ou alternativos, quando não se tem a mínima ideia do tipo de trabalho que desenvolvem. E, por outro lado, há muita gente ruim, sem talento, desafinada e com um repertório fraco ganhando prêmios, lotando shows e tendo grande espaço na mídia. Eu já tenho uma trajetória de quase 40 anos. Ou seja, existe um público que me conhece e acompanha meus trabalhos. Mas a nova geração vai ficar confusa na hora de escolher seus artistas. Ainda mais quando eles são ‘feitos’ para durar menos que uma temporada. É triste, mas não vejo soluções a curto prazo”

Thelmo discorre sobre os desafios na indústria.

Sobre o artista

Thelmo Antônio Gonçalves de Miranda Lins nasceu em Itabirito, MG, no dia 15 de maio de 1963. Filho de Tilma Gonçalves de Miranda Lins e Otacílio de Miranda Lins, ambos comerciantes, proprietários do Bar e Restaurante Pe. Eustáquio, no bairro Praia. Tem dois irmãos mais novos: Francisco (apelido Juninho, 57 anos) e Afonso (51 anos). Tem três sobrinhos: João (14) e Francisco (12), filhos de Juninho e Luciana; e Otávio (7), filho de Afonso e Camila. Ainda na vida pessoal, Thelmo tem um relacionamento de 28 anos com o cantor, compositor e jornalista Wagner Cosse.

Thelmo foi criado em um ambiente interiorano, tendo duas tias (Terezinha e Lili) que eram educadoras em Itabirito, ambas diretoras de escola. Em sua casa materna, havia uma biblioteca com livros e coleções que proporcionaram o incentivo à leitura desde criança. Seus pais presentearam os filhos com uma coleção da enciclopédia Delta Larousse, que foi fundamental para ampliar seus conhecimentos.

Outro destaque foi quando seu pai resolveu instalar, em seu comércio, uma banca de revistas. Como ali também vendiam passagens rodoviárias para Belo Horizonte, foi uma forma encontrada para entreter os passageiros enquanto aguardavam os ônibus. Thelmo e seu irmão Juninho eram os responsáveis pela banca, o que proporcionou a eles o acesso a todo tipo de leitura, desde jornais e revistas, passando pelas antigas coleções lançadas por editoras como Abril Cultural e Manchete. Thelmo lia de tudo, avidamente, e ainda guarda vários exemplares daquela época, como coleções de vinis e livros.

Após ganhar de presente uma máquina de escrever e fazer o curso de datilografia, começou a escrever e produzir textos numa mesinha instalada na banca de revistas, enquanto atendia aos clientes. Ele escrevia textos dramatúrgicos e poesias. Thelmo é cantor, compositor, ator, produtor cultural, jornalista, escritor e criador audiovisual.

Questionado sobre a mensagem do álbum, Thelmo afirma: “Sinceramente, não tenho intenção de passar nenhuma mensagem específica. Mas as canções retratam minhas preocupações com o mundo em que vivemos, como a questão ambiental, o genocídio dos povos indígenas, a minha ligação com a poesia e com o samba tradicional. Tem uma canção, inclusive, que fiz durante a pandemia, indignado com a solidão em que fomos obrigados a viver, longe dos amigos. Sempre fui muito cuidadoso com meus projetos, porque acredito que o ouvinte merece um trabalho de qualidade. Por isso, eu convoquei um timaço de músicos, tendo à frente o violonista e arranjador Daniel Rodrigues (carioca que vive em Itabirito) para assumir a direção musical. Há muitos músicos que participam de meus trabalhos pela primeira vez e alguns deles bem jovens. Aliás, é uma preocupação que sempre tive: de dar espaço para novas gerações. Há no disco um pouco de romantismo, que também faz parte do contexto. Afinal, o amor é que move tudo“.

Confira alguns trabalhos de Thelmo Lins aqui.

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