A República Sinagoga soltou uma nota de esclarecimento na sexta-feira (21), negando as acusações de atos violentos por parte dos moradores da moradia feitas pela mãe de um estudante do Maranhão, que acabou sendo prejudicado na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) por inúmeros “trotes” que sofreu na casa que pertence à UFOP. A denúncia foi publicada pelo jornal O Liberal, com informações de que o jovem teria entrado em coma alcoólico e que há suspeita do mesmo ter sofrido abuso sexual.
Por meio de sua conta no Instagram, a República Sinagoga disse que as alegações são inverídicas e que foram publicadas pelo O Liberal de forma irresponsável por ter reproduzido acusações sem respaldo probatórios de forma deliberada. Leia a nota na íntegra:
A República Sinagoga vem por meio desta informar que tomou conhecimento sobre as alegações publicadas em matéria jornalística do jornal “O Liberal”, na data de 21/10/2022, na qual são feitas graves acusações de suposto “trote” nas dependências da República.
Incialmente, esclarecemos que as alegações são inverídicas e que foram publicadas de forma irresponsável pelo jornal, que não se incumbiu de verificar a realidade dos fatos, reproduzindo deliberadamente acusações sem respaldo probatório como se verdade fossem.
A República Sinagoga repudia veementemente a prática de trotes e quaisquer abusos na comunidade acadêmica, reiterando seu compromisso com as regras institucionais do sistema republicano.
Informamos também que as medidas cabíveis já estão sendo tomadas para elucidar os fatos e coibir a disseminação de notícias falsas.
+ Memorial para estudante que foi encontrado morto em cela da delegacia será montado na UFOP
Entenda o caso
Na sexta-feira, o jornal O Liberal publicou a denúncia da mãe de um estudante de Engenharia Metalúrgica da UFOP que teria sofrido com “trotes” na República Sinagoga no dia 4 de agosto. Os moradores da república teriam colocado Rivotril na bebida do jovem e o obrigado a tomar cachaça misturada com óleo, molho de pimenta e molho shoyu. Além disso, eles teriam jogado um balde de água misturado com pó de café no rosto do estudante, o que teria asfixiado o rapaz e causado pneumonia. Posteriormente, ele teria entrado em coma alcoólico.
Ainda segundo a mãe do estudante, a equipe médica da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) precisou acionar a polícia, pois teria sido encontrado gel lubrificante no ânus do jovem, o que poderia ser um indício de abuso sexual.
“O que mais me deixa intrigada é esse tipo de trote, os mais velhos fazendo maldades com os mais novos. O meu filho disse que ele foi ‘escolhido’ como morador, ele e mais três. Aí tem essa brincadeira com a cachaça, com o molho e com o banho de água. Só que, infelizmente, ele quase entrou em óbito. Ele entrou em coma alcoólico, ficou internado na UTI praticamente entre a vida e a morte. Isso não é relato só meu que vi, é dos médicos e das enfermeiras do hospital. Eu quero que isso seja julgado. Uma maranhense pobre que foi estudar, seguir os seus sonhos, meu filho estuda metalurgia desde os 15 anos para ir à UFOP. Quando ele conseguiu, quase matam ele. Ele sofre de ansiedade, de transtornos de ansiedade generalizada, de pressão alta, faz uso de medicações para pressão alta e todos na casa sabiam”, relatou a mãe do estudante à Rádio Itatiaia Ouro Preto.
No relato da mãe à Rádio Itatiaia Ouro Preto ainda é dito que há uso de drogas e bebidas 24 horas na república e que só soube do ocorrido, porque os médicos a chamaram para contar. Ela relatou ainda que atualmente seu filho está sofrendo com transtornos psiquiátricos graves, com quedas de cabelo por estresse e que o coração dele dilatou. A mãe do rapaz contou também que pediu ajuda dos moradores da casa com o custeio do plano de saúde e medicações do rapaz, mas que recebeu R$ 900, três passagens para o Maranhão e duas para Ouro Preto.
“Eu só queria que eles pagassem o plano de saúde que eu fui obrigada a fazer e as medicações, que giram em torno de R$ 980. Eles se negaram a fazer o pagamento, me mandou uma mensagem acusando o meu filho de ter feito abuso e assédio sexual a três mulheres, além de uso de drogas. Quando eu estava lá em Ouro Preto eu perguntei várias vezes para eles sobre esse tipo de coisa e nunca falaram nada para mim, diziam apenas que era um bom rapaz. Eu conheço a conduta do meu filho, ele tem 23 anos e nunca levou nenhuma namorada na minha casa. No Maranhão, ele é o menino mais respeitado que já conheci. No IFMA, ele é tratado como professor, dá aulas junto de professor, e como ele chega em Ouro Preto e vai fazer essas coisas?”, disse à Rádio Itatiaia Ouro Preto.
A mãe do estudante finaliza dizendo que está revoltada com o acontecido e que quer justiça pelo seu filho e pelos demais estudantes que tiveram que passar pela mesma situação. “Isso não existe, não dá para admitir uma coisa dessa, é um crime. O delegado disse que isso é tentativa de homicídio. Até onde vão chegar esses rapazes? São inteligentes para algumas coisas e para outras são maldosos. É muito triste”, finalizou à Rádio Itatiaia Ouro Preto.
O que diz a UFOP
Ao Estado de Minas, a UFOP disse que recebeu um e-mail do estudante em questão na quarta-feira (10) e que imediatamente o jovem foi encaminhado para acolhimento da equipe técnica da moradia e acompanhamento por assistente social.
“Já solicitamos a ele que encaminhe documentos para que possa ser aberto um processo administrativo disciplinar discente para possibilitar a aplicação das normas da UFOP, que proíbem o trote, de acordo com a Resolução Cuni nº 1.870. Segundo o mesmo documento, a prática de trote implicará aplicação de penalidades de advertência, suspensão ou desligamento. Questões relativas a penalizações que a Universidade pode receber devem ser respondidas pela Advocacia-Geral da União (AGU)”, diz a Universidade em nota encaminhada ao Estado de Minas.
Posicionamento da REFOP
No domingo (23), a Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto (REFOP), se posicionou, por meio de sua conta oficial no Instagram, sobre o episódio. A REFOP disse que não cabe a ela tomar medidas punitivas, uma vez que não possui este caráter, sendo de responsabilidade dos órgãos judiciais apurar e julgar os fatos. Porém, a mesma também declarou que busca meios devidos de resolver a situação, tendo feito uma reunião com os moradores da República Sinagoga e com o Diretório Central Estudantil da UFOP (DCE) para elucidar o entendimento do ocorrido.
“Sendo assim, a REFOP vem, por meio desta nota, reafirmar seu total repúdio à cultura de trotes abusivos, a qual não deve representar o sistema republicano, principalmente quanto às repúblicas federais. Temos a ciência de que devemos combater essas atitudes autoritárias que, infelizmente, ainda nos permeiam. Razão pela qual, desde sua fundação, a REFOP não mede esforços em promover ações que sejam capazes de conscientizar e coibir a existência destas práticas criminosas, como por exemplo os fóruns republicanos e assembleias para calouros”, diz a nota da REFOP.
A REFOP finaliza o seu posicionamento dizendo que reconhece a existência de falhas no sistema republicano e assegura que está trabalhando para uma construção mais inclusiva, estando aberta ao diálogo.
Posicionamento do DCE
Também no domingo, o DCE soltou uma nota em sua conta oficial no Instagram sobre o caso. O Diretório Central Estudantil da UFOP disse que reconhece a importância do sistema republicano de moradia, tendo em vista o apoio e acolhimento promovido pelo compartilhamento de vivências dentro de uma casa, além do alívio financeiro para as famílias que dão suporte aos estudantes. Porém, ele também apontou para a problemática prática dos trotes dentro das moradias e repudiou a apropriação do espaço da Universidade para a perpetuação de opressões balizadas no discursos de hierarquia e tradição.
“O DCE não pode ‘atropelar’ um caso de justiça que ainda segue em investigação, entretanto é imperativo a responsabilidade crítica de reforçar o caráter opressor de práticas de trote, rotineiramente presentes no cotidiano de muitas repúblicas. É firme o nosso posicionamento de que os relatos apresentados pela família não se tratam de mais um trote universitário, por si só uma prática repugnante, mas de crime evidente”, posicionou o DCE.
A nota completa pode ser conferida clicando aqui.
Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), tendo passagens pelo Mais Minas, Agência Primaz e Estado de Minas.
[…] República da UFOP nega denúncia de trote que levou estudante ao coma […]
[…] estudante que acusou ter sofrido tortura pela República Sinagoga, de propriedade da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), foi ouvido pela Comissão de Direitos […]
[…] outubro deste ano, um estudante de Engenharia Metalúrgica fez uma denúncia contra a República Sinagoga. Ele relatou que os moradores da casa teriam colocado Rivotril na bebida do jovem e o obrigado a […]
[…] Metalúrgica da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Ayrton Carlos Almeida Veras, que relatou ter vivido um trote violento que o levou ao coma na República Sinagoga em agosto, está com fazendo uma “vaquinha” para conseguir pagar seu plano de saúde. Devido ao […]