Sou uma leitora assídua do escritor/jornalista estadunidense Gay Talese. Com o tempo, além de admirá-lo pela escrita rica de detalhes e leveza em sentimentos e pautas, descobri que possuía uma paixão em comum, mesmo a quilômetros distância. Os restaurantes. Não consigo explicar quando, onde ou em que momento exato minha admiração pelos estabelecimentos nasceu.
Mas, acredito que a correria da vida entre uma obrigação e outra, somada a chegada da idade, me fizeram enxergar beleza em cadeiras, mesas, cardápios, e quiçá, boas conversas, mas também adoro minha própria companhia nesses locais.
Acontece — e percebo que ao meu redor também — os restaurantes tornaram-se um local de trocas. Eles são aquele momento em que mesmo na correria, você se senta e repara. Alguma coisa você repara. Quando relacionado a momentos de tranquilidade como comemorações, bate-papos e flertes, os restaurantes também cumprem seu papel: a tranquilidade, o abraço, o bom dia e o “que saudade!”. Enfim, seja na correria ou em momentos de paz, restaurantes me remetem a coisas boas.
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Desde 2019, desenvolvi o costume de convidar alguns amigos e, a cada aniversário, faço questão de celebrar em um restaurante diferente. No planejamento, considero diversos aspectos: o cardápio (gosto de analisá-lo com antecedência), a localização, as opções de bebidas e até mesmo a história do local. Isso ocorre porque raramente organizo ou sou convidada para festas, dado o contexto de vida adulta em que me encontro.
A mensagem: “Que tal almoçarmos juntos hoje?” è um convite que muitas vezes concorre com a ideia de um café no final do dia (entretanto, a discussão sobre cafeteiras deixaremos para outra ocasião). Gay Talese narra com detalhes no livro Vida de escritor (Companhia das Letras – 2019), sua paixão e empolgação quanto aos estabelecimentos alimentícios, a ponto de desejar escrever um livro sobre isso. Infelizmente, a ideia não passou pelos editores.
Mas, o tema voltou a pauta em um artigo escrito para New Yorker intitulado “Basta”, em que Talese narra com precisão detalhes sobre o restaurante Gino que fecharia após 65 anos. Enquanto lia, refleti, sobretudo, que todos criamos afeto pela comida, música e decoração de um ambiente. E um fato marianense, transportou a mim e outras centenas de clientes/fãs para o plano da nostalgia saudosa.
Restaurante Bistrô em Mariana, anuncia fechamento
E assim, no dia 23 de agosto, a saber, após mais de duas décadas, o Restaurante Bistrô, localizado na rua Salomão Ibrahim da Silva, 61, Mariana, comunicou a despedida via Instagram.
“Um adeus com sabor de gratidão. Encerramento sábado, 26 de agosto. É com um misto de sentimentos que informamos que no próximo sábado será o último dia de funcionamento do Bistrô. Queremos expressar nossa mais profunda gratidão a todos vocês, nossos amigos e clientes, por fazerem parte dessa jornada conosco”, anunciou a página oficial.
Nos comentários, histórias, lembranças, elogios. A localização próxima ao campus do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS-UFOP), e a Praça Gomes Freire “jardim”, tornaram o estabelecimento parte da vida e da rotina de muitos. Aliás, ao final desta coluna, dever de casa: leia os comentários. O coração ficará quentinho, prometo.
Minha última lembrança, é de que o local foi o cenário escolhido para reencontrar um amigo de 10 anos, mas, que os percalços da vida nos distanciaram. Ali pude relembrar o quão essa amizade sempre será especial. E, também, que restaurantes queridos e aconchegantes podem nos relembrar de amizades também queridas e aconchegantes. Obrigada! Tenho certeza que minha breve narrativa, se perde a outros tantos encontros com outros tantos intuitos.
O artigo está em atualização, estamos em contato com as responsáveis pelo estabelecimento para saber o motivo da despedida. Porém, acho que no final das contas este é só um detalhe, frente as memórias, carinho, lembranças e principalmente: a gratidão. Até breve, Bistrô.
Ps: e a você, querido leitor (a), não deixe de ir despedir-se no dia 26, sábado, a partir das 18h às 23h.
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Jornalista formada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Atua na Real FM pela editoria de esportes e é apresentadora do Papo de Bola (Escola da Bola) e da Live Jay Sports.