Estrábica, livro de autora ouro-pretana, ficou entre os finalistas do Prêmio Jabuti 2023, na categoria crônica. Atualmente, a escritora Blima Bracher é considerada uma das 10 melhores cronistas do Brasil.
Em relação ao nome do livro, Blima conta que realmente é uma pessoa estrábica. Apesar de ter passado por uma operação aos nove anos de idade, a autora tem um residual de estrabismo, além de astigmatismo e hipermetropia.
Isso, desde os seis anos de idade, eu já tinha essa dificuldade de enxergar. Então isso me fez ser uma pessoa muito sensorial, muito ligada ao tato, ao olfato, aos cheiros e às sensações que cada momento me proporcionava. Eu sentia muito, o meu coração palpitava. Eu sou uma pessoa sensitiva, no sentido de perceber as coisas, né? Pois quando você não enxerga direito, você fica ligado nas entrelinhas, no que está rolando. Então você começa a perceber as energias que estão acontecendo ao seu redor, isso é muito interessante, eu acho que isso é típico de pessoas que tenham algum tipo de deficiência nos cinco sentidos. Elas começam a desenvolver uma coisa sensorial diferenciada e isso te abre muito os olhos para arte e para, no meu caso, a escrita”
explica a autora sobre o nome do livro.
Indicação ao Jabuti
O Prêmio Jabuti, criado em 1959, é o mais tradicional prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Portanto, seu objetivo é premiar autores, editores, ilustradores, gráficos e livreiros que mais se destaquem a cada ano.
Em sua 65ª edição, o prêmio é referência entre os prêmios literários do país, sendo um patrimônio cultural. Nesse sentido, há anos ele amplia os feitos da indústria editorial e o alcance da cultura literária nacional. Neste ano, o prêmio teve 4.245 obras inscritas.
A autora explica como consegue escrever histórias e criar personagens a partir das coisas que presencia durante seus dias e das energias que sente em determinadas situações. Dessa forma, por ser uma pessoa muito imaginativa, Blima tem a capacidade de gestar crônicas com diferentes temas, questionamentos e lembranças.
Ser finalista do Jabuti, para mim, foi o maior surto da vida, porque eu inscrevi em três categorias do Jabuti, como texto, como designer gráfico, que é da minha amiga Flávia Costa o design do livro, e as ilustrações que são de Carlos Bracher e Fani Bracher, que fez algumas vinhetas. E a última coisa que eu achei que fosse ganhar seria a questão do texto e para minha surpresa, eu fui indicada entre as 10 melhores cronistas do Brasil. Isso, para mim, já é uma grande honra. Se o prêmio vier, claro que vai abrir portas, né? Para a gente se tornar conhecido. Hoje no Brasil, a questão editorial do mercado é muito difícil, porque você consegue publicar um livro, mas a distribuição do livro é muito difícil, tem muita concorrência. Então as pessoas que já tem fama são as escolhidas pelas editoras. Um escritor desconhecido, para ele, ter um prêmio Jabuti é uma porta aberta diante de uma grande editora que possa distribuir esse livro”
Blima fala sobre a importância do prêmio.
A lista com os finalistas do prêmio foi divulgada no dia 21 de novembro. Além disso, anunciou-se os vencedores na última terça-feira (05), na cerimônia de premiação no Teatro Municipal de São Paulo.
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Livro Estrábica
O livro conta com prefácio de Pedro Drummond, neto de Carlos Drummond de Andrade; do Jornalista Walter Navarro e do ex-presidente da Academia Mineira de Letras, Rogério Tavares Faria.
A obra Estrábica, publicada de forma independente, conquistou importante prestígio nacional no meio da leitura. Sendo assim, Bracher relata que o grande desafio nesse processo é fazer com que o texto chegue nas pessoas.
O grande desafio é o seu texto chegar nas pessoas, é a distribuição. Esse que é o grande gargalo da literatura aqui no Brasil. Você escreve, você publica o livro, você faz até uma edição indie, né? Mas você não consegue que as pessoas leiam aquele seu livro e isso é muito frustrante, porque você quer escrever para as pessoas lerem, né? E você não consegue ter o seu livro nas prateleiras, nas grandes livrarias ou nos grandes mercados digitais. Você fica restrito àquela meia dúzia de gente que te conhece e que quer comprar o teu livro”
conta sobre os desafios do escritor no país.
Blima Bracher
Eu acho que um bom escritor é aquele que emenda bem uma palavra na outra, que consegue imprimir a sua digital, a sua qualidade literária de escrever no seu texto. É aquele texto que você fala assim: ‘Esse texto é de fulano’. Esse é o bom escritor”
Blima Bracher.
Blima é jornalista, graduada pela UFMG; formada em Engenharia Civil pela UFOP e no Curso de Extensão para Atores, também pela UFOP. Em 2018, ela ganhou o Prêmio Nacional SESC de Literatura, categoria Crônicas Rubem Braga, considerado o mais importante do país, com a crônica “Ouro em Minas, Cana na Bahia”.
Ainda em 2018, obteve prêmio da Revista Píncaro de Literatura, com a crônica “Me Desculpa, Tiradentes”. Em 2017, obteve o Prêmio da Academia Juizforana de Letras com a crônica “O Castelinho Bem-assombrado”. Recebeu premiação com o filme “Âncoras aos céus”, pelo 4º CINEOP, da Universo Produções. Na 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes levou mais um prêmio com o filme “Bracher: Pintura & Permanência”.
O livro Estrábica vem recebendo diversos elogios e a escritora afirma que tem a expectativa que a literatura seja fundamental à vida das pessoas.
É através da literatura que você tem o discernimento de saber onde você está, quem você é. Você saber da sua história, você ler histórias já passadas para não repetir os mesmos erros, para você avançar com o tempo, para você buscar suas origens, para você buscar suas raízes, para você ter voz, para você ter um pensamento crítico, né? Para você viver realmente dentro de uma sociedade como um ser pensante. Te abrir a cabeça, te abrir os horizontes. Este é o grande papel da literatura, te abrir também o sentimentos, o coração. Você lendo, você está vivendo uma história que não é a sua e isso te enriquece demais. Você poder ter acesso a outras mentes, a outros modos de pensar”
relata.
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Jornalista em formação pela Universidade Federal de Ouro Preto. Fascinada pela arte da comunicação e seus desdobramentos. Estagiária no Jornal Galilé e na Rádio Real FM.
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