Água imprópria compromete banho de cachoeira em distritos de Ouro Preto

Água imprópria compromete banho de cachoeira em distritos de Ouro Preto

A qualidade das águas para banho ao longo da calha do Rio das Velhas é motivo de preocupação dos órgãos ambientais responsáveis em Ouro Preto. Após alguns estudos feitos pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), de março a maio de 2022, placas indicando o nível de balneabilidade – avaliação da qualidade de corpos hídricos para banho, natação e mergulho – classificaram alguns pontos do rio como impróprios para banho.

Uma água é classificada como imprópria para banho quando não há o atendimento aos critérios estabelecidos para as águas próprias e ou valor obtido na última amostragem for superior a 2.500 coliformes fecais ou 2.000 Escherichia coli ou 400 enterococos por 100 mililitros.

Em cada cachoeira foram coletadas amostras de 100 ml de água, durante cinco semanas consecutivas. Para algumas coletas, no entanto, não foi possível, devido às condições do tempo ou operacionalização. Os resultados quantitativos encontrados foram comparados com os valores padrões estabelecidos pela Resolução CONAMA n°274/2000, que define os critérios de balneabilidade em águas brasileiras. De acordo com a referida resolução, as cachoeiras podem apresentar balneabilidade própria, divididas entre excelente, muito boa e satisfatória ou imprópria.

Das quatro cachoeiras analisadas em São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto, duas apresentaram balneabilidade própria, com condições excelentes – Cascata São Bartolomeu e Cachoeira de Brás Gomes – e outras duas apresentaram balneabilidade imprópria – Prainha Rio das Velhas e Ponto 20 Rio das Velhas.

Amostras da cachoeira Prainha (Rio das Velhas)

  • 5/04/22: 2.419,6 de coliformes totais e 125,9 de E. Coli
  • 3/04/22: 20.460 de coliformes totais e 1.3540 de E. Coli
  • 20/04/22: >2.419,6 de coliformes totais e 1732,9 de E. Coli
  • 4/05/22: >2.419,6 de coliformes totais e 687,7 de E. Coli
  • 11/05/22: >2.419,6 de coliformes totais e 2.419,6 de E. Coli

Amostras da Poço 20 Rio das Velhas

  • 05/04/22: 20.420 de coliformes totais e 1. 580 de E. Coli
  • 13/04/22: 8600 de coliformes totais e 410 de E. Coli
  • 20/04/22: >2.419,6 de coliformes totais e 228,2 de E. Coli
  • 4/05/22: >2.419,6 de coliformes totais e 93,3 de E. Coli
  • 11/05/22: >2419,6 de coliformes totais e 1.203,3 de E. Coli

Após o estudo, a Prefeitura de Ouro Preto colocou uma placa em cada cachoeira indicando o nível de balneabilidade da água, o que gerou desconforto por parte da população de São Bartolomeu, principalmente para os que vivem de turismo e os que utilizam a água para agricultura.

Ronald Guerra, além de ser morador de São Bartolomeu, fez as expedições do Rio das Velhas, participa do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas e é coordenador da Câmara Técnica de Planejamentos e Controle do Rio das Velhas. Ele também foi secretário de Meio Ambiente de Ouro Preto de 2004 a 2012, durante a gestão anterior de Angelo Oswaldo (PV), e implementou o Parque das Andorinhas, além de toda a cabeceira do Rio das Velhas que chega ao distrito em que mora.

Ronald defende que os estudos elaborados pela UFOP foram feitos por uma série de amostragens coletadas em um período curto. Ele também julga como precipitada a ação de colocar as placas sem reunir com a comunidade e dialogar de forma coletiva sobre todo o processo.

“Essa placa, de certa forma, estigmatiza uma área de balneabilidade muito importante para São Bartolomeu, que tem um turismo muito forte, baseado em uma análise sazonal. Eu acho que o levantamento apontou que deveria ter um estudo mais aprofundado. O papel mais importante que a prefeitura teria que ter nesse momento é contribuir para o aprofundamento do estudo, fazer um diagnóstico melhor da situação e buscar soluções de forma participativa, envolvida com a comunidade”, disse Ronald Guerra ao Jornal Galilé.

Na última quinta-feira (19), houve uma reunião entre a comunidade de São Bartolomeu, UFOP e Secretaria de Meio Ambiente de Ouro Preto, na Casa de Festa do distrito. A partir dela, criou-se um grupo de trabalho que fará mais uma série de análises que vão subsidiar a proposta de ter um diagnóstico e pensar melhor as soluções. Enquanto isso, os locais ficam sem as placas.

“Espero que agora haja um estudo aprofundado e que, de uma forma mais ampla e coletiva, a prefeitura colabore para que a gente possa desenvolver um programa de recuperação dessas áreas que estão no entorno da área de balneabilidade e de um processo de convencimento dos próprios proprietários no entorno dessas áreas. Isso não é simples, envolve muito mais uma dinâmica maior que a prefeitura tem que desenvolver, com projetos maiores em todo o município”, finalizou Ronald.

Reunião com a comunidade

Água imprópria compromete banho de cachoeira em distritos de Ouro Preto
Foto: Sabriny Melo/PMOP

A força tarefa que foi montada na reunião com objetivo de monitorar a qualidade das águas para banho ao longo da calha do Rio das Velhas. Nessa estruturação os entes envolvidos se unem para serem capazes de, em conjunto, ofertar, dentre outras possibilidades, roteiros e destinos turísticos que garantam a qualidade das águas que são frequentadas por moradores, turistas e visitantes.

A iniciativa se desenrolará durante todo ano e contará com a participação do curso de Engenharia Ambiental da UFOP, com possibilidade de parcerias junto com o curso de Arquitetura. Outras demandas serão levantadas ao longo desse processo e, para isso, foi criado um grupo de trabalho de nome SOFIA. Dentre as demandas futuras, está a relação com o serviço de água e esgoto de Ouro Preto, que inclui representantes da Saneouro.

“É importante que todos os diferentes usos da bacia sejam levando em conta a preservação dos recursos naturais. Então São Bartolomeu se destaca, cada vez mais, como importante destino turístico, mas, mais do que isso, um destino onde seus visitantes e turistas procuram as riquezas hídricas da região, como a cachoeira de São Bartolomeu, a própria calha do Rio das Velhas, a cachoeira do Brás Gomes, as prainhas do Rio das Velhas entre outros. E toda essa oferta natural será agora observada e monitorada rotineiramente através de uma grande parceria com a UFOP que prima pelos três sentidos fundamentais da instituição que são o ensino, a pesquisa e a extensão”, disse o secretário de Meio Ambiente de Ouro Preto, Chiquinho de Assis.

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Reivindicações na Câmara

Historicamente, o vereador Júlio Gori (PSC), que é de São Bartolomeu, tem sido um político atuante na pauta, cobrando esclarecimentos do poder Executivo sobre os problemas na qualidade da água do Rio das Velhas. Ele já apresentou três documentos na Câmara de Ouro Preto pedindo informações sobre ações da Secretaria Municipal do Meio ambiente diante do relatório elaborado pela UFOP indicando os índices de balneabilidade.

“Nós mandamos um relatório da UFOP para a Promotoria de Meio Ambiente falando da situação da água do Rio das Velhas. A situação não é boa, a gente precisa que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente divulgue o que está acontecendo dentro de Ouro Preto. Tem muita gente que usa a água para a agricultura familiar, vários locais ficam sujos de esgoto e está cheio de gente nadando”, afirmou Gori.

Situação de outras cachoeiras

O relatório da UFOP mostra as condições da água de todas as cachoeiras de Ouro Preto. Todas que se encontram no Parque Natural Municipal das Andorinhas – Ponte das Andorinhas, Poço das Crianças e Folhinha – receberam a classificação “excelente”.

Os resultados das análises feitas para a Cachoeira de Catarina Mendes indicam que a balneabilidade está própria, com condições satisfatórias, assim como a Cascata Dom Bosco.

Já no distrito de maior exploração turística de Ouro Preto, Lavras Novas, dos oito pontos coletados, cinco apresentaram balneabilidade própria, com condições excelentes – Cachoeira 3 Moinhos, Cachoeira do Falcão, Cachoeira 3 Pingos, Ponte do Calixto e Ponte da Caveira –, um ponto apresentou balneabilidade própria, com condição muito boa – Cachoeira Castelinho –, um ponto apresenta balneabilidade própria, com condição satisfatória – Bacia do Custódio – e um ponto apresenta balneabilidade imprópria – Cachoeira de Tabuões.

Confira os dados coletados da cachoeira Tabuões:

  • 30/03/22: 1119,9 de coliformes totais e 71,7 de E. Coli
  • 06/4/22: 2.419,6 de coliformes totais e 920,8 de E. Coli
  • 13/4/22: 8.1640 de coliformes totais e 5.540 de E. Coli
  • 20/4/22: 2.419,6 de coliformes totais e 30,1 de E. Coli
  • 04/5/22: 2.419,6 de coliformes totais e 63,1 de E. Coli

O relatório leva em consideração que a condição de balneabilidade imprópria da cachoeira Tabuões possa ter relação com a chuva, uma vez que os valores mais elevados de E. coli (entre 6/4 e 13/4) foram correspondentes às amostras coletadas após a ocorrência de precipitação.

Ademais, essa classificação da balneabilidade pode ser indício de contaminação de esgoto doméstico ou por carreamento de material fecal de animais. Diante disso, o relatório da UFOP indica que é necessário avaliar se as moradias a montante da cachoeira estão contribuindo para essa contaminação. O mesmo pode ter ocorrido com as amostras referentes ao Rio das Velhas. Portanto, o levantamento diz que é necessário realizar uma investigação mais aprofundada para aferir as causas que afetam a balneabilidade de ambas cachoeiras.

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