No dia 1 de julho, um funcionário da Ourotran foi alvo de racismo enquanto prestava serviço para a Prefeitura de Ouro Preto. Nesta terça-feira(11) ele discursou na Câmara Municipal, relatando o caso e pediu ajuda e justiça. O vereador Alex Brito (Cidadania) foi quem o convidou, e aproveitou para fazer uma forte declaração, mostrando indignação com o caso.
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Enquanto realizava seu trabalho de refazer a sinalização para um evento em Ouro Preto, foi vítima de racismo por um morador da cidade. O homem ficou exaltado com o fechamento de uma rua e começou a ofender a vítima com termos racistas, chamando-o de “Congo” e “orangotango”.
Felizmente, testemunhas presenciaram o incidente e imediatamente Leonardo acionou a Guarda Civil Municipal (GCM) para relatar o ocorrido. O agressor foi conduzido à delegacia, juntamente com a vítima, para coleta de depoimentos.
Na última sessão da Câmara Municipal de Ouro Preto, Leonardo Sales discursou corajosamente, pedindo justiça e enfatizando a importância de combater o racismo em todas as suas formas.
Em seu discurso, Leonardo ressaltou que não permitirá que outras pessoas o dominem ou ensinem comportamentos racistas a sua filha. Ele também destacou a necessidade de fortalecer as vítimas de racismo e combater essa prática abominável, não apenas em Ouro Preto, mas em toda a sociedade.
O homem fala sobre como ele e sua família, assim como outros negros no Brasil e no mundo, sentem o racismo na pele, comparando sua experiência com a de outros casos conhecidos, como o jogador de futebol Vinícius Junior. Ele menciona que não há uma explicação lógica para o racismo, pois é algo que não se pode compreender plenamente.
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Ao falar sobre o impacto psicológico do incidente, o homem descreve a dificuldade de chegar em casa e encarar sua família após vivenciar o racismo. Veja a declaração na íntegra:
“O que comemorei ontem? Nada. Hoje, nesta casa, venho pedir respeito para todas as pessoas, independentemente de sua aparência física. Isso não é uma doença, é uma honra para nós. Para mim, para minha família e para todos os negros, não apenas em Ouro Preto, mas em todo o Brasil e no mundo. Eu senti isso na pele, o que Vinícius Junior e muitos outros negros já passaram. Não há explicação para isso, é algo que não se pode compreender. Por fora, podemos parecer bem aos olhos dos outros, mas internamente, a parte psicológica é difícil.
Chegar em casa e olhar para seu filho, para sua mãe, para seu pai não é fácil.
O que aconteceu foi uma falta de respeito no meu trabalho. Explicando para a pessoa, esse indivíduo infelizmente, não posso mencionar o nome, me sinto constantemente freado. Deixar isso para lá e pedir desculpas não está tudo bem, certo? Com 41, 42 anos, se eu continuar aceitando as pessoas me impedindo de fazer o que preciso fazer, preferiria nem ter nascido. Quando somos crianças, não temos conhecimento de nada, não sabemos de nada.
Mas hoje, com o conhecimento e os meios de comunicação que temos, ainda existem pessoas que fazem isso, é um absurdo. Parte da justiça foi feita, eu dormi na minha cama quentinha em casa, enquanto ele dormiu na prisão, a ficha dele agora está suja, como esse presidiário. Então, nós, negros, também precisamos começar a cortar muitas brincadeiras, muitas coisinhas que diminuem um colega de amigo. Tirar uma foto e dizer: “Vamos sair no flash porque há muitos negros juntos”.
Isso dá a ele o direito de fazer o mesmo com o amigo dele, que talvez não goste, mas não diga nada porque ele tem dinheiro. Muitas pessoas estão tentando me frear, mas não vão conseguir. Vou levar esse caso até o fim. Agradeço muito ao Alex, de coração, por não me frear como estão fazendo comigo. Não vá até a Câmara para falar por mim, eles vão dizer o que querem. Eles não sentem o que estou sentindo até hoje, nem o que minha filha está sentindo, nem minha mãe. Eu não sou um animal, eu não vim de um macaco. Eu tenho pele e esta casca aqui. Enquanto eu estiver vivo e puder, vou lutar pelos meus direitos. Não estou pedindo nada material, estou pedindo respeito e ajuda.
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Porque hoje aconteceu comigo, e com quantos outros aí que isso aconteceu? Ninguém diz nada por causa dessa questão simples de uma família tradicional. Minha família é tradicional, meu pai é conhecido aqui na cidade há muitos anos. Sou filho do Milton do açougue, com muito orgulho. Ele nos criou através dessa profissão e com muito orgulho. Não há vergonha nisso, nunca tive e não terei agora. Então, peço que nos ajudem, peço ajuda hoje para mim, psicologicamente. Saio para trabalhar todos os dias, mas é difícil. Não é fácil, cara, chegar à rua e me deparar, às vezes, com alguém que se parece com esse indivíduo. Não é fácil, e toda aquela história volta à minha mente, toda aquela situação vem à tona novamente. Não é fácil.”
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Jornalista formado pela Universidade Federal de Ouro Preto, com passagens por Esporte News Mundo, Blog 4-3-3 e Agência Primaz.
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