Rogério Afonso, morador do bairro Santa Cruz, em Ouro Preto, foi até as redes sociais no domingo (20) relatar a falta de assistência e acompanhamento por parte da Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro São Cristóvão com sua mãe, Iris Maria Vieira da Silva, de 70 anos, que acabou tendo trombose e perdendo a perna esquerda em julho.
Segundo Rogério, Iris sentia dores na perna há mais de um ano e procurou a UBS do São Cristóvão, onde realizou alguns exames a pedido do médico. Porém, ele relatou que nenhum profissional do Programa Saúde da Família (PSF) esteve na casa da senhora para acompanhar suas queixas. Afonso disse que apenas uma agente comunitária de saúde que conhecia a família encontrava com sua mãe por acaso e pedia informações sobre seu estado de saúde e dava o retorno via WhatsApp.
“Essas informações recebidas pelo WhatsApp, junto com fotos, é a base tomada pelos demais profissionais da UBS para adotar ou não qualquer medida. Para nós, isso não adiantou nada, pois minha mãe acabou perdendo uma das pernas. Cada Município recebe recurso do governo federal para manter o PSF e em momento algum minha mãe recebeu uma visita de médico ou enfermeiro e acabou perdendo a perna. Minha mãe é uma senhora idosa, de uma certa idade. Para eles foi só a perna. Cada dia acontece alguma coisa e a gente não tem condições de fazer nada, porque não temos conhecimentos técnicos, o PSF tem e recebe, mas cadê a competência e a vontade de administrar?”, disse Rogério ao Jornal Galilé.
Após perder a perna esquerda e ganhar alta do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto, Iris foi levada à casa de seu filho, pelo próprio Rogério, onde o PSF do Santa Cruz deu toda a atenção necessária para a devida recuperação idosa, segundo o Afonso.
Depois de reduzir os níveis de glicose, regular a pressão e os batimentos cardíacos de Iris, ela quis voltar para sua casa, onde teve que depender novamente da UBS do São Cristóvão. No dia 17 deste mês, mãe e filho tiveram que recorrer à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), com a senhora reclamando de muitas dores, vomitando, evacuando e lá, providenciaram vários encaminhamentos, como pedidos de exames e aplicação de medicamentos com soro.
Iris teve alta no mesmo dia, mas no sábado (19), os dois tiveram que novamente voltar à UPA, com a senhora abatida, tendo problemas na fala, com assuntos desconexos, vomitando e evacuando muito. A médica de plantão rapidamente detectou um quadro anêmico avançado, com fezes escuras e com presença de sangue. Assim, a senhora foi encaminhada para a emergência, solicitando internação na Unidade de terapia intensiva (UTI) da Santa Casa. Na mesma noite ela foi encaminhada para lá, onde está até o presente momento. Na UTI, ela passou por uma transfusão de sangue, por vários exames e está aguardando a realização de uma colonoscopia, para averiguação do intestino.
“Minha mãe está internada em um estado grave de anemia, não está falando nada com nada, é uma situação deplorável de se ver. Para quem via aquela pessoa ativa, que sempre ajudou todo mundo e que sempre participou de tudo, por incompetência ou negligência, está passando por essa situação. Deixa a gente engasgado” relatou Rogério Afonso.
Veja o desabafo publicado por Rogério Afonso por meio de seu perfil no Facebook:
+ Secretaria de Saúde de Ouro Preto anuncia medidas contra Covid-19
O que diz a Secretaria Municipal de Saúde
Em contato com o Jornal Galilé, o secretário de Saúde de Ouro Preto, Leandro Moreira, relatou que recebeu o vídeo do relato de Rogério no domingo e pediu de imediato que a Comissão de Fiscalização do Conselho Municipal buscasse mais informações acerca do caso. Ele afirmou que também pediu ao PSF dados a respeito do atendimento para saber o que realmente aconteceu. Após as apurações, a pasta convidou Afonso para ir até a secretaria a fim de fazer os devidos esclarecimentos em relação ao acompanhamento de Iris durante os últimos anos.
“Ainda estamos fazendo alguns levantamento a respeito do caso, com o Conselho Municipal de Saúde e com a secretaria, sobre os atendimentos e acompanhamentos em relação ao caso. Teve, sim, atendimentos na unidade que acompanha a senhora em intervalos menores que um ano e apresentamos isso ao Rogério. Explicamos a ele, também, sobre o formato do acompanhamento”, contou Leandro Moreira.
O secretário de saúde de Ouro Preto explicou que o atendimento feito por profissionais da área no domicílio é feita quando há dificuldade de acesso por parte do usuário até a unidade. No caso, um paciente acamado ou com uma restrição de movimento, por exemplo. Por isso, que Iris não recebeu uma visita médica em sua casa antes de perder a perna.
Com relação ao acompanhamento por WhatsApp, Leandro disse que o aplicativo é muito utilizado atualmente para fazer a comunicação com os pacientes. Por exemplo, para um aviso de consulta, orientações ou algo nesse sentido, o que não substitui a necessidade da visita do agente comunitário de saúde. “É o que nós estamos apurando. Uma coisa é a visita do agente comunitário de saúde e outra é o contato por telefone, seja por ligação ou mensagem. Se tiver acontecido falhas, a gente vai conversar com a equipe para fazer ajustes no trabalho”, finalizou.
Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), tendo passagens pelo Mais Minas, Agência Primaz e Estado de Minas.