O estudante que acusou ter sofrido trote violento pela República Sinagoga, de propriedade da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), foi ouvido pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal na tarde de quinta-feira (27). Na ocasião, ele relatou toda a sua trajetória envolvendo a moradia citada. No relato, apareceram outros casos de supostos crimes que os moradores da casa teriam cometido contra o rapaz, dentre eles, xenofobia. Natural de Maranhão, o jovem relatou ter sofrido humilhação por conta de seu estado de origem, sendo chamado de “maranhense safado”.
“Sofri várias humilhações lá por ser maranhense, ouvi palavras muito chatas, como ‘maranhense safado’. Eu aceitava, eu não podia xingá-los, porque se eu fizesse o mesmo, também em tom de brincadeira, eu tomaria punições, teria que tomar cachaça e molhos”, disse o estudante.
O estudante contou que foi para a República Sinagoga em 2021, por indicação de um professor que era ex-aluno de lá, e que iniciou o curso de Química Industrial, mas posteriormente transferiu para Engenharia Metalúrgica. Ele disse que nos primeiros dias foi explicado que haveria uma “batalha”, que se tratava de uma adaptação dos calouros na casa. O rapaz de Maranhão pensava que a decisão de entrar na moradia federal era pelo critério socioeconômico e foi surpreendido com a informação de que ele teria que “batalhar” por uma vaga.
“Tinha que fazer os afazeres domésticos, tinha que obedecer a eles, fazer tudo que mandassem, servir de escravo e de garçom, ter noites mal dormidas e era obrigado a ir em festas. Tinha caso de eu estar doente, queimando de febre, e pessoas da república de cima ir ao meu quarto e jogar extintor de incêndio em mim. Eu não podia falar nada só porque eles eram mais velhos”, relatou.
O rapaz contou que teve uma considerável decaída acadêmica por conta da vida republicana e que chegou a pesquisar outros meios de moradia, mas foi impossibilitado por questões financeiras de sua família. Após ter voltado de férias, ele passou pelo processo de “escolha”.
“Eles que decidem tudo e fazem uma lavagem cerebral em todos os calouros. É um sistema totalmente opressor, eles não aceitam ser contrariados. Eles têm grande influência aquisitiva e ideológica”, declarou o estudante.
O jovem relatou novamente o fato que foi amplamente noticiado pela imprensa mineira na última semana e, em seguida, rebateu algumas alegações que, segundo ele a república tem disseminado nas redes sociais, descredibilizando o seu relato.
Em sua “escolha”, ocorrida no dia 4 de agosto, o estudante da UFOP precisou ser encaminhado ao hospital por ter entrado em coma alcoólico. Os médicos, segundo o relato do denunciante, teriam encontrado lubrificante no ânus do rapaz, sinalizando uma possível tentativa de abuso sexual. O jovem disse que a república tem espalhado a informação de que ele utilizava pomada para hemorroida, o que, segundo o mesmo, é verídico, porém os laudos médicos teriam identificado lubrificante.
“Eu uso, mas faz tempo que eu não estava usando, porque estava bem. Os laudos médicos foram claros, era lubrificante. Foi identificada a tentativa de abuso sexo. Eu não fiz relações sexuais, não sou gay, não tenho nada contra, mas eu sei da minha conduta. Não podem alegar isso”, disse.
Também, o rapaz disse que a república tem disseminado a informação de que ele fazia uso de drogas, mas o mesmo declarou que é proibida tal prática na casa e que seu exame toxicológico não identificou sinais de utilização de entorpecentes. O estudante também negou tomar remédio tarja preta com álcool. O estudante negou ainda ter abusado sexualmente de meninas.
“Eles inventam muitas notícias falsas e transmitem na internet, culpando a vítima. Estão sujando a minha imagem e a imagem da minha mãe, dizendo que estamos fazendo isso por dinheiro. Não é por dinheiro, não ganhei nada, eu só quero justiça”, finalizou.
O Jornal Galilé procurou o morador mais velho da República Sinagoga e a UFOP, mas não houve resposta de ambos até o momento desta publicação.
Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), tendo passagens pelo Mais Minas, Agência Primaz e Estado de Minas.
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