Prestes a completar 7 anos da tragédia, Novo Bento Rodrigues tem metade das casas concluídas

Prestes a completar 7 anos da tragédia, Novo Bento Rodrigues tem metade das casas concluídas

Há 15 dias de completar sete anos do desastre da Samarco, em Mariana, as casas do Novo Bento Rodrigues, distrito atingido pelo mar de lama, estão 50% concluídas, de acordo com o diretor de engenharia e obras da Fundação Renova, Carlos Eduardo Vaz. Oficialmente, a entidade afirma que das 162 residências contratadas, 71 estão prontas, 83 estão em construção e oito estão para iniciar as obras. Isso daria menos de 44% das casas prontas, porém, na quarta-feira (19), Carlos disse que os números mudam todos os dias, conforme as obras caminham, chegando, então, a metade dos lares para habitação.

A previsão é de que cerca de 120 casas estejam concluídas no fim do ano. Na quarta-feira (19), foi assinado entre a Fundação Renova e a Prefeitura de Mariana o Termo de Compromisso que sustenta o Plano de Ação para que os serviços essenciais, como tratamento de água e esgoto, transporte público, limpeza urbana, iluminação e segurança, estejam em plano funcionamento. Também foi anunciado na quarta-feira o início da operação assistida da Estação de Tratamento de Esgoto do novo distrito.

Com capacidade para atender 1.200 pessoas (cerca de 300 famílias), a ETE de Bento Rodrigues é sustentável, uma vez que o transporte dos resíduos será feito sem necessidade de bombeamento e seu tratamento não exigirá produtos químicos.

Em Paracatu de Baixo, estão em construção 56 casas, além de Escola Infantil, Escola Fundamental, Posto Avançado de Saúde, Salão Comunitário, Posto de Serviços, Praça Santo Antônio, Estação de Tratamento de Esgoto e Estação de Tratamento de Água.

Confira os principais investimentos feitos pela Renova:

  • R$ 24,33 bilhões foram desembolsados pela Fundação Renova nas ações de reparação e compensação;
  • R$ 10,4 bilhões é o orçamento previsto para 2022;
  • 8,4 mil pessoas trabalham na reparação da bacia do Rio Doce;
  • R$ 11,46 bilhões é o total pago em indenizações e auxílios financeiros emergenciais para cerca de 402,8 mil pessoas;
  • R$ 1,25 bilhão é o valor total dos contratos formalizados com produtores e fornecedores locais;
  • 150 km de estradas passarão por obras e até 900 escolas receberão melhorias com recursos da Agenda Integrada;
  • R$ 270 milhões para investimentos na saúde pública dos municípios;
  • R$ 2,74 bilhões foram desembolsados nos reassentamentos até agosto de 2022.

O Novo Bento Rodrigues conta com 398 hectares de terra, sendo 99 hectares de área construída. O local conta com alguns bens coletivos, como:

  • Campo de futebol;
  • Escola Bento Rodrigues;
  • Posto de Saúde;
  • Posto de Serviços;
  • Igreja das Mercês;
  • Igreja São Bento;
  • Templo Assembleia de Deus;
  • Associação Comunitária;
  • Quadra Poliesportiva;
  • Associação de Hortifrutigranjeiros.

Em Paracatu de Baixo, 56 casas iniciaram a etapa de construção civil para 79 famílias, sendo 83 projetos protocolados na Prefeitura de Mariana. O local possui uma extensão territorial de aproximadamente 400 hectares, tendo 95,93 hectares de área construída. O distrito também conta com alguns bens coletivos, como:

  • Escola Fundamental;
  • Escola Infantil;
  • Posto de Saúde;
  • Posto de Serviços;
  • Praça Santo Antônio;
  • Igreja Católica;
  • Casa São Vicente;
  • Salão Comunitário;
  • Campo de futebol;
  • Quadra poliesportiva;
  • Igreja evangélica;
  • Cemitério;
  • Estação de Tratamento de Água;
  • Estação de Tratamento de Esgoto.

Reassentamento Familiar

O reassentamento familiar é a opção para os atingidos que perderam suas casas, mas querem viver fora dos reassentamentos coletivos de Bento Rodrigues ou Paracatu de Baixo.
104 famílias, 19 casas foram entregues e 92 foram adquiridos para famílias que optaram por esta modalidade de reparação do direito à moradia, sendo 34 imóveis para reformar, 48 imóveis para construir e 10 lotes estruturados.

Sobre fomento da mão de obra local, 38% dos contratados atuais firmados pela Fundação Renova são com fornecedores locais, 56% dos profissionais são dos municípios impactados e R$ 289,3 milhões de ISS geradores para os municípios impactados.

Termo de Compromisso para entrega de Bento Rodrigues

Foto: Rômulo Giacomin/Jornal Galilé

A Prefeitura de Mariana e a Fundação Renova assinaram um Termo de Compromisso que sustenta o Plano de Ação para a entrega do distrito de Bento Rodrigues. Serão anunciados ainda o início da operação assistida da Estação de Tratamento de Esgoto de Bento Rodrigues. O Novo Bento foi desenhado com a participação ativa de seus futuros moradores, seguindo as melhores práticas, desde a escolha do terreno até aprovação do projeto urbanístico. Todas as etapas foram debatidas, alinhadas e decididas pelo conjunto das pessoas envolvidas na população do distrito.

“Agradecemos á Fundação Renova por entregar para a população marianense o aterro sanitário, que ficou de primeiro mundo. A partir de dezembro, ele será assistido de forma colegiada para que nós passamos de dezembro deste ano a 31 de março de 2023, buscando toda a forma que está sendo conduzido, sendo operado totalmente pela Fundação Renova. Ressalto, também, que na sua entrega em 31 de março de 2023, passando a gestão por completo para a gestão municipal, terá ainda que ser feito um repasse de R$ 15 milhões à Prefeitura de Mariana. Outros motivos dizem respeito a obras públicas, como ginásio, escola, posto de saúde e ETE que dão condição para atender 5 mil famílias. Precisamos, também, entrar numa cooperação assistida para que possamos colocar aos nossos servidores municipais para operar, junto da Fundação Renova, e assim que for feito a entrega do reassentamento da íntegra, nós assumiremos integralmente todas as demandas dos prédios públicos”, declarou o prefeito interino da Primaz de Minas Gerais, Ronaldo Bento (PSB).

Espera após sete anos

Foto: Rômulo Giacomin/Jornal Galilé

A Fundação Renova foi criada no dia 30 de junho de 2016. Nessa data, os atingidos já haviam, em maio, escolhido o terreno para a construção do reassentamento. O início dos licenciamentos, então, aconteceram no ano seguinte. Somente em fevereiro de 2018, houve a aprovação do projeto urbanístico conceitual pela comunidade, obtenção de licença e alvarás, homologação das Diretrizes de Reassentamento pelo Ministério Público na Ação Civil Pública e implementação do canteiro de obras.

Somente em janeiro de 2019 que as obras começaram. A Fundação Renova alega que, em 2020, com a pandemia de Covid-19, o contingente de trabalhadores das obras foi reduzido para atender às exigências sanitárias. Porém, no mesmo ano, houve a conclusão das obras dos postos de serviço e de saúde, além das primeiras cinco casas.

Em 2021, houve o aumento gradual do ritmo das obras, com a flexibilização das normas sanitárias da pandemia. Assim, a escola de Bento Rodrigues, a Estação de Tratamento de Esgoto e as 47 primeiras casas foram concluídas. Neste ano, houve a conclusão das infraestrutura, o avanço nos bens coletivos e o alcance de 71 casas prontas.

“O normal, num empreendimento desse, seria começar a fazer uma onda de construção. Faria um todas as fundações e daí passaria para uma próxima área e, assim, se teria uma onda de reassentamento. Mas aqui não, se constrói uma casa aqui e outra lá. Então, o processo construtivo, que é extremamente customizado, traz uma complexidade maior e demanda mais tempo. Então, do ponto de vista racional, quando eu olho a linha do tempo, eu entendo o motivo de estarmos começando a falar da mudança das famílias agora. A gente inaugura essa nova fase de preparação para a mudança, que se iniciará em janeiro do ano que vem. Já do ponto de vista racional, é muito difícil. Se passaram sete anos e é muito tempo”, disse o diretor-presidente da Fundação Renova, André de Freitas.

Algo incomum em reassentamentos, o Novo Bento Rodrigues é fruto de uma criação conjunta entre arquitetos e a comunidade, seguindo as normas pactuadas com o Ministério Público. Assim, Bento e Paracatu possuem desenhos únicos, cada casa é diferente, tendo cores, tamanhos, janelas e materiais distintos.

“Tem casa que chega a ter 19 tipos de acabamentos diferentes, o que é um direito das pessoas, mas é complexo fazer todo esse trabalho. É casa a casa, é caso a caso, isso torna muito mais gratificante para nós. As casas têm, em média, em torno de 160 m². A ideia é tentar repor o mais próximo do que era, inclusive localização entre os vizinhos, a posição da igreja e da escola. Tudo isso foi pensado para tentar ser o mais próximo possível do que era a vida na origem”, declarou o diretor de engenharia e obras da Fundação Renova, Carlos Eduardo Vaz.

O Novo Bento Rodrigues possui um formato de um cavalo, por escolha do terreno por parte da comunidade. Será nesse local que os atingidos terão a oportunidade de continuar a suas histórias.

“Quem visitou Brasília em 1960, viu uma cidade inteiramente nova. Mas aqui é muito mais que um sonho de Niemayer, porque ele teve a liberdade de criar uma cidade nova a partir de sua criação. Era num formato de um avião. Aqui tem o formato de um cavalo, porque o terreno que foi escolhido pela comunidade, com a configuração que foi sendo feita, resultou no formato do cavalo. Aqui é muito mais que uma cidade, porque não é o sonho de uma pessoa, é o sonho de buscar reparação de todos os moradores e de todas as pessoas de Bento e Paracatu. Isso aqui é a continuidade da história dessas pessoas, isso que nos move todos os dias”, contou o gerente-geral de reparação integrada dos reassentamentos, Luiz Antônio Jr.

Antônio Fernando da Silva foi atingido diretamente pela lama da Samarco em 2015. Ele morava em Bento Rodrigues junto de sua família, constituída por cinco pessoas. Ele é irmão de uma mulher atingida que morreu durante o tempo de reassentamento. Apesar do longo tempo de espera, o morador, que hoje reside no bairro Rosário, em Mariana, espera mudar para sua nova casa no início do ano que vem.

“Eu estou muito ansioso para mudar para cá, porque já vai dar sete anos que estamos na expectativa. Pensamos que sairia mais rápido. Deram a previsão para o primeiro semestre do ano que vem, mas não temos certeza de como será ainda. É angustiante, porque já perdemos vários colegas e parentes que não conseguiram nem conhecer a nova casa deles. Estamos combinados de nos mudar juntos, toda a comunidade, quando tiver todas as casas prontas. Mas não sabemos ainda como vai ser, se vai vir um pouco de pessoas e depois o resto”, contou o atingido.

Antônio Fernando também lamentou que não poderá criar galinha ou ter uma horta, como tinha nos tempos de Bento Rodrigues, antes da tragédia. “É muito diferente. Aqui não vai poder criar nada, galinha, essas coisas. A gente sempre foi da roça, mas aqui não vai poder, é pequeno, então não tem como. O meu lote era grande, mas era dividido pela família e tinha horta”, contou.

Revolta

Foto: Rômulo Giacomin/Jornal Galilé

Sandra Dometirdes Quintão tinha um restaurante chamado “Bar da Sandra”, que mantinha a tradição de 15 anos em Bento Rodrigues, até 2015, quando foi tomado pela lama da Samarco. Ela está há sete anos em uma casa alugada em Mariana, vende coxinhas para complementar a renda de um salário mínimo e uma cesta básica fornecidos pela Fundação Renova. Para Sandra, não faz sentido voltar com o distrito sem o seu estabelecimento nos mesmos moldes do que era.

“Eu quero retornar com o meu restaurante. Já me ofereceram dinheiro para eu não retornar. A Renova não sabe que temos sangue correndo nas vias, somos raiz, queremos voltar às nossas origens. Eu não quero dinheiro, eu quero o meu bar. A área do Bar da Sandra ficou menor. Não tem expectativa de volta e nem projeto. Ela (Renova) quer que o Bar da Sandra não exista, mas ela não sabe que somos raízes de Bento. Eu tenho os meus conterrâneos, muitos estão cansados, aceitando dinheiro e ficando na cidade. A Renova compra as pessoas, mas a mim não. Eu quero a minha vida e a minha dignidade de volta”, manifestou Sandra.

Outro atingido, José Nascimento de Jesus, relata que a Fundação Renova está “sanando tudo pior”, sem respeitar os projetos, com cômodos em cada casa que não cabem uma cama de casal. Ele é presidente da Associação Comunitária de Bento Rodrigues e, junto da comunidade, havia construído uma banca para que as pessoas pudessem jogar truco todo fim de semana e assar um churrasco. Hoje, José acusa a Renova de precarizar o reassentamento.

“A gente cantava e se divertia na maior felicidade. Nós morávamos num paraíso. É crime escandaloso das mineradoras, não é acidente. Eu tirava leite e fazia queijo, vendia ambos, colhia alface, almeirão, tomate e comia tudo. Hoje temos que comprar tudo. A Renova fica nessa safadeza, com lavagem de dinheiro. A Renova é assim, ela faz hoje, desmancha amanhã, faz amanhã e desmancha depois. Nós tínhamos grade de metalão, estão colocando grades de alumínio, é um absurdo. Nós tínhamos canos condutores de água de metalão, estão colocando PVC. Isso é um absurdo, a Renova só tem dinheiro para ela, nós estamos abandonados”, contou José Nascimento.

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2 Thoughts to “Prestes a completar 7 anos da tragédia, Novo Bento Rodrigues tem metade das casas concluídas”

  1. […] Novo Bento Rodrigues tem apenas metade de suas obras concluídas, tendo 71 casas prontas, das 162 contratadas. Outras 83 residências estão em construção e oito […]

  2. […] do Patrimônio Cultural de Mariana (Compat), sendo parte do processo de licenciamento das obras de reassentamento de Bento Rodrigues. Entretanto, até o momento, o templo segue sem intervenções e em estado crítico de […]

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