“Nós temos como instrumento o som dos nossos passos”, e o tambor ressoou durante todo o final de semana em Mariana, com a Festa do Reinado do Congado de Nossa Senhora do Rosário e São Sebastião. Munidos da espada e protegidos por todos os santos, os membros das Guardas do Congo desfilaram pela cidade em evento de resistência e consolidação da cultura ancestral. No sábado (08), houve a saída com a bandeira da promessa, no domingo (09) o cortejo até o trono coroado e o posterior descenso do mastro.
Em entrevista ao Galilé capitão da Guarda, Marcelo Eustáquio Ramos, destacou a importância dos trajes usados durante a festa, que têm grande significado cultural e religioso.
“Os capitães têm capas com flores que representam a coroa de Nossa Senhora. Os congadeiros carregam espadas, e os moçambiques carregam bastões. A gente usa o nosso Rosário, que é de nossa proteção, e as nossas guias, que são dos santos da nossa devoção”
Simbolismo e Trajes
De acordo com Marcelo s trajes usados durante a festa são repletos de simbolismo. Os capitães vestem capas adornadas com flores, representando a coroa de Nossa Senhora. Os congadeiros carregam espadas, enquanto os moçambiques utilizam bastões e rosários, que simbolizam a proteção e a devoção aos santos. Além disso, os moçambiques usam correntes nos pés, que simbolizam as correntes dos escravos fugitivos, que faziam barulho para indicar onde estavam. O Congado é mais associado ao canto e à liberdade, enquanto o Moçambique é mais pesado e ligado ao lamento.
Coroação dos Reis
A coroação dos Reis é um elemento central da Festa do Reinado. Existem diferentes tipos de reis:
- Reis Congos: Reis da guarda que permanecem em vigília durante todo o ano.
- Reis de Festa: Reis coroados apenas no dia da festa.
- Reis de Promessa: Pessoas que fazem promessas a santos como Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito, sendo coroadas para cumprir essa promessa no ano seguinte.
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A tradição da Festa do Reinado, representa em Mariana um marco de resistência. Quem reafirma isso é Aída Anacleto, figura notável do movimento negro da cidade, que destacou que a tradição das Congadas em Mariana era muito maior do que hoje. A emancipação de Acaiaca, antigo distrito da Primaz, é apontado como um dos motivos para esse distanciamento.
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Contudo, existe a força motriz dentro das Guardas resistentes, que emanam uma força de luta pela consolidação da cultura. Por isso, o apoio da Prefeitura de Mariana e demais instituições é bem vinda para Aída.
Nós não precisamos de muito, porque sempre tivemos pouco, e esse pouco é muito bacana, porque faz acontecer essa festa maravilhosa. Nós temos como instrumento principal os tambores, que regem não só a musicalidade, mas também o som dos nossos corações e o som dos nossos passos. Então, para nós, os tambores são o instrumento mais importante. É por isso que eles estão hoje em Mariana, fortalecendo e emanando muita fé para a população marianense, para o povo brasileiro e para o mundo, para que a paz volte a reinar.
O secretário de cultura de Mariana Gustavo Leite, acredita que a força desta cultura imaterial é o que mantém a cultura viva: “É muito pulsante e gratificante, como gestor na pasta da Cultura e Turismo em Mariana, conseguir que esse patrimônio imaterial, essa festa, através da Pastoral Afro-Brasileira, continue repercutindo. Toda essa cultura que temos, toda essa vivência da religiosidade que é intensa e imensa”
FÉ NO TAMBOR, FÉ NAS CRIANÇAS!
Com a presença de crianças dando um show entre os componentes, as Guardas trouxeram todo o simbolismo da Festa do Reinado.
Entre as guardas, elas ganharam destaque, tocando e perpetuando a cultura. Aida Anacleto destaca que “o que é bacana é que a nossa juventude, as nossas crianças, estão presentes, e com isso eu tenho certeza de que permaneceremos eternamente fortes na luta em defesa da cultura popular brasileira, da cultura das guardas”
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Jornalista formado pela Universidade Federal de Ouro Preto, com passagens por Esporte News Mundo, Blog 4-3-3 e Agência Primaz.