Os desenhos que se movem, que expressam sentimentos e emocionam, conhecidos no mundo do cinema como animação, não são uma modalidade exclusiva para criança e o público infantil. Pelo menos foi isso que os cineastas Marão, Sávio Leite, Igor Bastos, Tânia Anaya e Marco Arruda defenderam em entrevista coletiva cedida ontem (23) na Mostra de Cinema de Ouro Preto, a Cine OP. Para os realizadores, esse preconceito, impulsionado por estratégicas mercadológicas, limita a visão acerca da modalidade.
Os artistas propuseram uma visão geral do mercado de animação do Brasil. Todos possuem uma vasta experiência com a prática, inclusive lecionando em universidades, formando novos animadores.
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‘EU NUNCA PENSEI EM FAZER FILMES INFANTIS DE ANIMAÇÃO’
Sávio Leite, em uma fala provocadora, questionou a ideia de que animação é voltada para crianças: “Essa construção foi feita ao longo do século 20, muito pela produção da Disney, que criou filmes para o público infantil. Mas a animação pode e deve ser vista também por adultos”. Leite, que organiza uma Mostra de Cinema de Animação em BH, destacou que seu próprio festival prioriza desmistificar essa noção. Sávio é autor de curtas como O Vento (2004) e “Macacos me mordam (2012)” .
Tânia Anaya reforçou que a animação tem uma veia experimental que não é infantil. “Essa questão de mercado incentivou a produção voltada para o público infantil, mas minha obra sempre buscou outro caminho. Nunca pensei em fazer filmes infantis, embora respeite quem o faça”, disse Anaya. A realizadora é a responsável pelo curta-metragem premiado “Castelos de Vento (1998)”.
Contudo, o sucesso de algumas obras como Menino e o Mundo (2013), de Alê de Abreu, grande homenageado da 19ª CineOP, têm levantado discussões sobre uma nova dinâmica mercadológica.
Igor Bastos, o realizador do único filme infantil entre os presentes ( Placa-mãe- 2024) , comentou sobre a mudança no mercado: “Estamos vivendo um boom da animação adulta. As crianças estão cada vez mais ligadas a outras formas de entretenimento, como gameplays, e a animação tem se tornado mais adulta. Os adultos, por sua vez, estão mais infantilizados, consumindo produtos licenciados que antes eram voltados para crianças”.
O debate trouxe à tona a importância de se criar mais filmes de animação voltados para o público adulto, abordando temáticas complexas e pertinentes. Marão, realizador do filme Bizarros Peixes das Fossas Abissais – 2023, que de uma forma complexa conta uma história que até pode ser para crianças, disse: “A animação nunca foi apenas para crianças. Nós fomos acostumados a ver desenhos como Pernalonga, que têm camadas que só adultos compreendem”, observou Marão.
ENTREVISTA QUE VIROU RODA DE CONVERSA SOBRE A ANIMAÇÃO
Na entrevista coletiva realizada os realizadores discutiram diversos aspectos da animação no Brasil, incluindo a regulamentação, formação de profissionais, e a democratização do acesso e da exibição de filmes de animação.
Eles destacaram a necessidade de regulamentação para criar mais espaço para produções brasileiras independentes e animações nacionais em catálogos de plataformas.
A formação de animadores também foi um ponto importante. Marão, por exemplo, compartilhou a dificuldade inicial de acesso à formação, destacando que muitos animadores eram autodidatas, aprendendo com livros, oficinas em festivais como o Anima Mundi, e cursos livres. Hoje, existem mais cursos formais, mas muitos professores vêm de outras áreas, e a prática ainda é fundamental.
A exibição e a distribuição de filmes de animação foi outro tema central.
A CineOP, que movimenta Ouro Preto desde a última quinta-feira, se encerra nesta segunda com o show da banda Francisco, el Hombre, no Centro de Convenções da UFOP.
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Jornalista formado pela Universidade Federal de Ouro Preto, com passagens por Esporte News Mundo, Blog 4-3-3 e Agência Primaz.
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